PITADAS DE SAL – 11
AS ALFAIAS
Caríssima/o:
Não é novidade para ninguém que o homem adapta engenho e arte à procura de soluções que o ajudem a enfrentar e a resolver os problemas que a sua actividade profissional lhe vai colocando. Também os marnotos tiveram que inventar alfaias, “utensílios ou artefactos usados na salinagem”, ou então adaptar outras (da lavoura, da apanha do moliço, da construção naval, da pesca,...).
Quem trabalhou ou acompanhou de perto esta arte, viu que “cada alfaia tem uma função específica, supõe gestos precisos no seu manuseamento, é construída com determinada matéria...”
Muitos destes utensílios eram fabricados pelos próprios marnotos ou pelos moços ou encomendados a “artistas” a quem davam indicações para que o resultado final estivesse adaptado à função (trabalhar moliço ou lamas, ou rer o sal,...) e ao trabalhador (mais ou menos alto...).
A grande maioria era feita de madeira, com um ou outro elemento de metal ou de plástico, pelo que a sua duração era muito limitada.
Se estivéssemos a ouvir um marnoto a falar das suas alfaias não nos causaria espanto o entusiasmo das suas descrições, descendo aos gestos e pormenores mais subtis e contando um ou outro episódio vivido por si ou pelos seus moços e que, terminando em bem, ... com a cara na lama ou a roupa molhada e enlameada, ... foram ocasião de sonoras gargalhadas...quando não de uma ou outra palavra mais escorrida!
Em contrapartida, alfaias há que exigem um esforço físico para além do normal e, em alguns casos, o trabalho em equipa de três homens é indispensável ...
Como curiosidade registo, ao acaso,
um ou outro nome de alfaias; para que serviriam?
Alferes, almanjarra;
bombeiro;
cabeça de carneiro, círcio;
encanas;
moeiras;
pajão, portão, punhos;
quícios;
tranqueira;
ugalhos.
Algumas destas palavras são conhecidas; mas aqui trata-se do nome de alfaias utilizadas pelo marnoto na marinha.
Por exemplo, «alferes» é “alfaia de madeira ou de ferro, em forma de V, com cabo, tendo o comprimento de 1,10 m; usa-se na reparação de canejas e barachinhas”.
Olhando para a imagem, fácil é admitir o muito que as alfaias reservariam para entreter uma interminável conversa.
Manuel