Texto de António Marcelino
No Correio do Vouga desta semana
Hoje, de tudo se faz notícia. Factos reais leem-se com olhos vesgos. Orquestra-se um bombardeamento contra pessoas que cometem erros comuns a todos nós. A rua enche-se com protestos telecomandados, onde sobressai o farisaísmo de quem comanda, mas recolhe a mão e esconde o rosto. Há meios de comunicação social que obedecem a interesses de lóbis, e estão pejados de gente superficial e incompetente, a quem é mais fácil dobrar a cerviz do que cultivar-se, pensar, avaliar e comunicar.
O paradigma nacional é o futebol, onde, cada vez mais, vale tudo, no campo, nos estúdios e nas redações. Os políticos são o bombo da festa. Parece que ser político é crime julgado na praça pública, pelo que se faz e não se faz, pelo que se diz e não se diz. Alguns, é verdade, são gente ambiciosa e de memória curta. Estão na política como gaiatos ambiciosos e quezilentos. Mas há gente muito séria, competente e indispensável. Não falta, porém, neste país, quem se arvore em juiz sem apelo, olhando apenas na direção dos outros e assestando sobre eles o ponto mira das suas armas: o microfone, a caneta e a língua viperina. Só eles e os seus são sempre os mais honestos e válidos.
Portugal está pobre, sobretudo por uma crise de pessoas. Assim, é inevitável o jogo sujo que permite semear joio e nada, neste campo de todos nós.