quinta-feira, 22 de março de 2012

Manuel Serafim com a sua paixão pelas antiguidades, pela música e outras artes


Manuel Serafim fala das suas paixões

Manuel Serafim Lourenço é figura bem conhecida da nossa comunidade pela forma como se envolve nas mais diversas atividades, sempre de forma empenhada. Com uma paixão especial pela música e pelas artes, soube desde menino cultivar o colecionismo, à medida da sua evolução na vida. Nas águas-furtadas de sua casa, segundo nos garantiu, preserva uma coleção de latas de cerveja, para num futuro poder eventualmente expô-las. De pequeno colecionava o trivial da idade, mas nas excursões escolares e noutras ficava fascinado pelo que os seus olhos contemplavam nos museus, nas igrejas e nos mosteiros. Enquanto uns se inclinavam para as visitas aos aeroportos, onde extasiados apreciavam os aviões a levantar voo e a aterrar, o Manuel apenas sonhava com talhas douradas, mobiliário antigo e outras peças expostas. E quando surgiu a oportunidade deu-se ao prazer de adquirir móveis antigos e outras peças. «Quando me casei com a Helena, optei por mobílias normais, mas um dia, em Oliveira de Azeméis, onde fui comprar um piano, delirei com mobílias antigas que estavam à venda; adquiri uma que ainda utiliza», explica. E nunca mais parou, estando sempre atento ao que lhe surge, mesmo que seja necessário qualquer restauro.

Sala da música
Como torneiro mecânico de profissão, tem o gosto pela perfeição, o que o leva no torno a criar objectos que a sua imaginação lhe sugere. E daí passou para a escultura, trabalhando, com as técnicas e a habilidade que sempre cultivou, o ferro e outros metais, a pedra e a madeira, saindo das suas mãos peças decorativas únicas, representativas da sua sensibilidade. 
Reformado há quase dois anos, ficou com tempo livre para as suas paixões. E teve a feliz ideia de restaurar a casa paterna, aproveitando tudo o que ela possuía, para poder mostrar aos amigos o viver entre portas das gentes das primeiras décadas do século XX. Mas não se pense que chamou fosse quem fosse para fazer as obras necessárias. Ele próprio fez o que tinha de ser feito, quer fosse trabalho de pedreiro, de carpinteiro ou de eletricista. Tudo passou pela sua natural habilidade. Restaurou móveis, aproveitou o que era de aproveitar, reproduziu o que permanece na sua  memória, enfim, montou a casa dos seus pais, ainda não na totalidade, mas lá chegará.


A velha grafonola onde ouvimos a Amália

Quem ali entra, se estiver ligado aos tempos daquela casa de habitação, não pode deixar de ficar encantado. Alfaias agrícolas e ferramentas variadas, máquina de costura Singer (sua avó era costureira), cozinha com fogão a lenha e demais utensílios dos pais, aparador que o Manuel Serafim construiu, segundo as suas recordações, rádio Telefunken com onda média e curta, esta para ouvir as comunicações entre navios, tudo arrumado e com gosto. E mais: quartos de dormir com camas e demais apetrechos das eras dos nossos avós, cómodas, fotografias antigas e roupas. E numa sala anexa, a sala da música, lá está uma grafonola a corda, onde pudemos ouvir um disco de 78 rotações com a nossa grande Amália a cantar o fado Carmencita, com Orquestra do Porto de Guitarras de Fernando Freitas, com data não identificável. Quando a agulha fica rombuda, o nosso entrevistado sabe afiá-la. No mesmo espaço, discos, livros, instrumentos musicais e móveis. 
Na mesma casa, não faltam recordações do avô que foi barqueiro, proprietário de 15 barcos e cujos empregados eram todos da Murtosa. Os barcos transportavam sal, junco, areias e outros produtos. 
Aquilo que para muitos não tem valor serve para o Manuel Serafim. E serve porque sabe reparar o que precisa de ser reparado. Numa posição bem visível, estava uma bússola, com massas neutralizadoras, que evitam o desvio da agulha magnética da sua posição ideal. Eu não sabia, mas o nosso entrevistado soube exemplificar-me tudo, o que mostra à evidência a importância destas exposições.

Quarto de dormir

Enquanto cirandávamos pela casa dos seus pais, o Manuel foi acendendo as luzes para se ver melhor. A fonte da energia — disse-nos — não estava nas linhas da EDP, mas num pequeno painel solar que ele construiu. E explicou: «Aquele painel solar carrega um grupo de baterias e depois um conversor transforma 12 voltes contínuos em 220 voltes alternos; uso lâmpadas económicas e fluorescentes, mas é óbvio que a energia não chega para máquinas de lavar nem para aquecedores.» 
Aqui, é justo lembrar que o nosso entrevistado foi pioneiro nos painéis solares para aquecimento de água na nossa terra. Comprou uma revista, há décadas, onde se explicava a inovação e a forma de construir os painéis. Habilidoso como é, pôs mãos à obra e ainda está a funcionar. 
Em sua própria casa, o Manuel Serafim guarda outras preciosidades, para além das mobílias. Quadros com motivos regionais, feitos por ele, esculturas variadas, e relógios de parede e de mesa. Adquiridos e reparados alguns com a ajuda de um amigo, mestre relojoeiro, com a escola da Casa Pia. Com ele aprendeu muito e hoje já sabe como fazer. Uns 25 espalhados pela casa. E não tem mais expostos, porque a esposa Helena chegou a protestar: «Isto até parece uma casa de relógios», disse ela. Outros aguardam vez de conserto.

Um S. Tiago esculpido pelo Manuel Serafim

Olhando para as paredes, ali estão azulejos encaixilhados, depois de uma natural seleção. Oferta de amigos e aproveitados outros da casa dos seus antepassados. Quando vê uma casa a ser demolida pergunta naturalmente o que é que vão fazer aos azulejos. Um dia alguém respondeu-lhe: «vão para o lixo; se quiser pode levá-los todos.» Pegou em alguns e com eles fez quadros. Tem outros azulejos guardados à espera de utilização. 
No espaço musical, onde às sextas-feiras se reúne com alguns amigos, para ensaios de fado e outras músicas, não há instrumentos antigos. «Teriam que ser de muita qualidade, e caros, para manterem a afinação.» Instrumentos antigos tem só dois pianos, onde gosta de tocar as suas músicas preferidas. E nos ensaios, com a velha cozinha perto e apetrechada, há muitas vezes ocasião para uns pratos ao sabor dos apetites. E não é a gastronomia, também, uma riqueza cultural do nosso povo? 

Fernando Martins



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