A MARINHA DE SAL
Caríssima/o:
Marinha... Esta palavra pode ter várias significações; porém, no contexto em que nos encontramos o difícil é escolher o ângulo para a abordar a contento.
Mas tudo tem um princípio e o indicado é começar por aí. Eis pois acima o esquema de uma marinha que nos ajudará a perceber a dinâmica da formação do sal; de facto, é para isso, para produzir sal, que a marinha foi construída e existe.
«Marinha de sal
Instalação a céu aberto, destinada a obter, por evaporação, o sal dissolvido na água da Ria.
Numa salina, há as seguintes peças principais: viveiro, algibés, caldeiros, sobre-cabeceiras, talhos, cabeceiras, meios de cima e meios de baixo.
É construída, essencialmente com lamas, em plano inclinado, situando-se o viveiro na parte superior e as andainas na inferior, para que a água passe de um compartimento para o seguinte só por acção da gravidade.
Deve situar-se num local bem exposto aos ventos dominantes, tendo em vista facilitar a evaporação, e o mais próximo possível do canal de comunicação entre a Ria e o mar, para tomar água com boa concentração salina.»
De facto, a marinha é isto... e tudo o mais que lhe está subjacente: uma comunidade humana cheia de vida e que procura meios para essa vida e ainda um ecossistema que nos pode surpreender pela sua vastidão e riqueza. (Como se vê, todo um programa que apenas se aponta... Quantas pessoas 'giravam' à volta da marinha? Proprietário, marnoto, moço, barqueiro, mulheres salineiras, e respectivas famílias... E no ecossistema, os animais e as plantas que vivem e passam pela marinha!)
E se nos deixarmos surpreender pelo número de marinhas que já existiram e laboraram na nossa Ria!...
«Em terreno com cerca de 1500 hectares, a Oeste e a Norte da cidade [Aveiro], estão situadas as Marinhas.
No século XV existiam cerca de 500 marinhas na Ria de Aveiro; há cerca de 50 anos, à volta de 270 marinhas produziam sal e no ano de 2006, apenas 8 marinhas estavam em exploração.»
É de pasmar ... 500 marinhas construídas! Que azáfama! Como foi transformada a paisagem!
E a sua conservação!?
Hoje tudo está ao abandono: muros arrunhados, esteiros assoreados, ruína total...
A nossa geração pôde viver os dois opostos: paisagem polvilhada de branco, vida a fervilhar por tudo quanto era viveiros, malhadais, esteiros, canais, cales, a contrastar hoje com a pasmaceira entrecortada pelos voos de uma ou outra ave que vai nidificando nas zonas que não são inundadas pelas águas que livremente invadem e arrastam o que resta.
Sem dúvida, esta transformação operada ali à nossa frente foi, porventura, uma das primeiras revoluções na nossa região; não digo que tenha sido a mais profunda mas as marcas são bem visíveis e as consequências ainda perduram. Muito se tem escrito sobre a crise do salgado de Aveiro – e irá continuar a ser motivo de estudo... O certo é que o retorno às origens é pouco provável...(impossível?)
Que futuro?!
Para terminar apenas duas notas muito ligeiras:
- Marinha Velha... parece insinuar a existência de marinha, ou não?
- A ilha da Mó do Meio também teve a(s) sua(s) marinha(s)...
Manuel