Foi na celebração da Eucaristia, a partir do Concílio, que o povo cristão melhor captou, por certo, o sentido da liturgia conciliar. Pôde, então, perceber que há uma unidade na celebração que não se pode menosprezar e muito menos destruir. As coisas já andavam pelos mínimos. Ainda está na mente de muita gente e justificava-se que, ao largo da celebração, estivesse sempre gente a entrar. Dizia-se que cumpria o preceito quem participasse no “levantar a Deus”, ou seja, na primeira elevação que se seguia à consagração. O moralismo do preceito nunca educou na fé e na vivência da Eucaristia.
O Concílio veio definir a unidade da celebração. A missa inteira vai do cortejo de entrada até ao envio final. A Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística são inseparáveis. A proclamação da Palavra, na língua usual, bem proclamada e acolhida como Palavra de Deus, um Pai que faz da sua palavra um ato de amor, é o caminho indispensável para a assembleia se abrir ao Sacramento que dá a Vida.
Então, todos se centram na adoração, vivem o sentido da unidade fraterna na oração do Pai-Nosso, trocam o sinal da paz e, por fim, têm à sua disposição o Corpo do Senhor, alimento sagrado, oferecido a todos os que se sentem convidados a participar no Banquete. Na celebração todos são irmãos, todos por igual. Acabaram os lugares marcados e de honra; não há mais razão para saudações especiais; os títulos profanos e as categorias sociais perdem sentido; as personalidades cedem o lugar devido às pessoas. O único em proeminência é o presidente da assembleia. Preside em nome do Senhor, tendo o cuidado de que a sua pessoa, a sua palavra, o seu porte não esqueçam nem ocultem Aquele que ocupa o lugar central e que dá valor único à celebração, antes O realcem, em clima de seriedade e de festa.
Entretanto, proporcionou-se maior acesso à Palavra de Deus com as três leituras de cada Domingo, proclamadas por leitores preparados; ganhou sentido de acolhimento e meditação o salmo responsorial; valorizou-se a apresentação das oferendas; os cânticos adequados, com o apoio de um grupo não desligado da assembleia celebrante, são função de todos; instituíram-se acólitos para servir o altar; deu-se sentido à posição dos participantes quando ajoelhados, sentados ou de pé; tornou-se livre o modo de comungar; multiplicaram-se os ministros extraordinários da Comunhão para servirem na celebração e serem portadores do Senhor aos doentes; valorizaram-se os momentos de silêncio; convidam-se, por fim, os fiéis a partirem “da Missa para a Missão”, vivendo e testemunhando, ao longo da semana, os frutos da Palavra escutada e da Eucaristia recebida.
A partir do Concílio, os sacramentos - Baptismo, Confirmação, Unção solene dos Enfermos, Matrimónio e Ordem - celebram-se, na medida do possível, e para aí se deve caminhar, dentro da celebração dominical. São acontecimentos pascais comunitários que têm, a partir do mistério pascal de Cristo, de que a Eucaristia é o centro, o seu sentido maior. Exprimem a vida cristã da comunidade e não são mais atos de devoção individual ou de culto particular.
Há paróquias que mantêm vivo o espírito conciliar, outras que parece terem estagnado, algumas que se mostram nostálgicas da missa de “antigamente” ou só do padre, e ainda outras que, numa irrefletida inovação e a pretexto de solenidade, abafam ou desvirtuam, com exageros ou intromissões, o sentido sagrado do mistério vivo que se celebra.
Um católico esclarecido pode celebrar a Eucaristia em qualquer parte do mundo ou em qualquer língua, para si desconhecida, que não se perde, nem perde o fruto da celebração. As exigências normais do culto público guardam a celebração do perigo de descaracterização para bem do povo de Deus.
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