Um texto de Maria Donzília Almeida
“A saúde é a vida no silêncio dos órgãos”. Esta frase, do famoso cirurgião francês René Leriche, subentende que é a doença, em última análise, o que faz o corpo falar.
Evocando Júlio Dinis, médico e escritor, na sua obra: “As Pupilas do Sr Reitor” é defendida a ideia de que não há doenças, mas sim doentes! Apesar de haver sintomas comuns a duas pessoas, em cada uma, a doença manifesta-se, de forma diferente. A afirmação foi bastante polémica, na época em que foi produzida, meados do século XIX.
Em qualquer fase da nossa vida, já passámos por circunstâncias de fragilidade física ou/e psicológica, em que nos sentimos, no papel de doentes. De formas diversas, a nossa saúde sofreu já, algum revés. Felizes nos sentimos, quando conseguimos debelar a patologia e deixámos de sentir a dor que a acompanha.
Associado à doença, o sofrimento é um caminho inevitável e indispensável ao nosso crescimento. Ele ensina-nos a vida, a apreciá-la, ter mais prazer em senti-la e vivê-la inteiramente.
As dificuldades nos lapidam, tanto, que não compreendemos. Olhamo-nos no fundo de nós mesmos e perguntamo-nos: "Porquê eu?" Olhamos as crianças que sofrem e dizemos: "que injustiça!" Mas o sofrimento é uma condição do nosso aperfeiçoamento. Olhem as flores que, todos os anos, são podadas! Elas choram também, mas em cada galho cortado, forma-se um novo rebento, donde brota a vida, com toda a pujança. Daí, advêm flores mais belas, viçosas, renovadas!
Os que aceitam as dores e fazem delas escudo, tornam-se grandes. Os que se debatem, tentando evitá-las, são sufocados e morrem pigmeus!
Grandes homens e mulheres têm, geralmente, atrás de si, uma grande história de lutas e batalhas.
Não nos lamentemos porque a vida nos trouxe sofrimentos, quer sejam físicos quer psicológicos. Aceitemo-los, fazendo deles nossa arma de luta.
Os sofrimentos não vêm para nos derrotar, mas para nos tornarmos mais fortes. Todos merecemos a felicidade, ainda que resultante de uma dura conquista. Segundo Andrew Matthews, autor do best-seller, “Being Happy” , adquirido na capital londrina, em 1994, “Life is not perfect….”, mas nós devemos ser felizes, “….right here, right now! ”Being Happy is a decision!”Tomei esta decisão!
Não nos devemos prender às nossas tristezas, contudo temos de vivê-las. Dor e sofrimento fazem parte, da natureza, que habita em nós. Quanto mais nos conhecemos e nos aceitamos, tanto melhor crescemos. Enganar-se, retarda qualquer modificação de nossa parte. É tarefa difícil compreender que o sofrimento existencial é uma componente de nossa dinâmica de viver, mas, habitualmente, o olhamos como um castigo, ou punição.
Vivemos a época da busca incontrolável do prazer. Cria-se muita dificuldade em aceitar o que não faz parte do mundo hedonista.
De forma metafórica, o povo chama ao sofrimento que suportamos, às tribulações que nos consomem, cá na terra, a nossa cruz! Jesus também carregou uma e bem pesada, por todos nós. Neste calvário que percorremos, nesta vida, surge como figura emblemática, uma personagem marcante no percurso terreno, aquele que nos ajuda a carregar a nossa cruz – o Cireneu! Que preciosa é a sua aparição! Que alívio representa para a diminuição do nosso fardo!
A todos é atribuída uma “cruz”, que se carrega, na solidão dos caminhos, ou na companhia de um Bom Samaritano!
Experimentei essa sensação, de um ombro amigo, exatamente no local, onde Jesus transportou a cruz, na sua Terra Santa! Quando cumpria uma atividade, integrada na peregrinação, que nos levara até lá, tive que percorrer a mesma via-sacra que Cristo fez, até ao Calvário, carregando um enorme madeiro. Pelas dimensões, assemelhava-se, mesmo, à cruz de há 2000 mil anos atrás, enorme, volumosa! Fazia parte do espírito da tarefa, o dividir penas e sofrimento, numa recriação realista da subida até ao Monte das Oliveiras. Aquele ombro amigo............fez toda a diferença no transporte da minha cruz!
-Aqui, na Terra Santa, a cruz é mais leve que em Portugal! _comentei, em tom de gracejo, para a minha companhia de jornada._ Pudera! Os operadores turísticos querem cativar as pessoas para virem à Terra Santa, não afugentá-los!
Para além do simbolismo religioso e a recriação da vida de Jesus, importava ressaltar a ideia da solidariedade, da partilha da entreajuda. Aquela cruz enorme, de madeira que transportámos,......estava cheia.......de ar por dentro! Era leve como uma pena!
Com o sofrimento, vêm as lágrimas e o alívio que elas nos trazem. Para amenizar este “vale de lágrimas” que é a vida, disse Jesus: "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados".
Os momentos em que nos recolhemos e ficamos introspectivos e mais reservados devem ser aproveitados para uma bela e frutífera viagem interior. Temer menos a dor e o sofrimento aumenta a capacidade de se superar e aceitar, cada vez melhor, os reveses da vida. Amplia as oportunidades de evolução. Há uma frase que descreve, com propriedade, as razões do sofrimento: "Quanto mais numerosos os espinhos, mais belas serão as rosas".
A Igreja católica está a promover, no âmbito da sua pastoral do doente, um programa de assistência e visita aos doentes, no sentido de mitigar dores e.....ajudar, um pouco, a carregar a cruz de cada um.
11.02.2012