Um artigo de Georgino Rocha
Esta resposta é, no mínimo, surpreendente, mas profundamente apelativa. É dada por Jesus de Nazaré aos discípulos de João Baptista que seguiam no seu encalço e lhe haviam feito a pergunta crucial: Mestre, onde moras?
Os discípulos, pescadores de profissão e habituados a arriscar, vão, vêem e ficam. E em consequência, desencadeiam um dinamismo vocacional digno de registo.
A resposta de Jesus, embora situada no tempo, é dirigida a todos os que buscam sinceramente algo ou alguém que a sua consciência pede de formas diversificadas. De facto, que procuramos na vida? Tem sentido o que fazemos? Se reservássemos uns instantes para “balanço”, que saldo positivo verificaríamos? Estamos a atender o que é prioritário e se enriquece à medida que a vida desliza ao longo dos anos?
O diálogo ocorre nas proximidades do Jordão, rio de forte tradição bíblica pelos episódios que no seu leito e nas suas margens ocorreram. Um deles, o mais importante, é o baptismo de Jesus e a revelação de Deus trindade: o Pai que fala, o Espírito que se manifesta em forma de pomba que assinala, como Filho de Deus, o que tinha sido baptizado. Por isso, a resposta-apelo tem um alcance maior: vinde ver quem eu sou, conhecei o meu estilo de vida, construí a comunhão que vivo com o Pai, captai a missão que estou a realizar. E, como outrora também agora, somos convidados a conviver com Ele, a partilhar a sua vida, a acolher o seu olhar penetrante, a deixar-nos atrair e a “agarrar” pela experiência gratificante que dá resposta aos anseios mais profundos do coração humano.
A experiência feliz faz desabrochar o desejo de comunicar a outros quem a provoca e lhe dá sentido. Surge assim a base humana do envio, da missão que toda a vocação comporta e dinamiza. Deus, de forma velada ou manifesta, está sempre a agir naqueles que escolhe e envia. Os protagonistas são os seres humanos, mas a “seiva” revigorante é a força divina que percorre todas as suas “veias”: a vocação à vida por meio dos pais, à existência cristã por meio da família e da comunidade eclesial, à convivência em sociedade por meio das instâncias educativas e socializadoras, ao amor solidário por meio dos modelos de doação gratuita definitiva, ao serviço do bem comum por meio da responsabilidade convergente, assumida por cada um e pela autoridade democrática na sua função impulsionadora.
Os discípulos, na companhia do Mestre, aprenderam os modos de realizar a missão: curar doentes e alimentar famintos, partilhar e viver na alegria sincera, deixar-se conduzir pelo amor universal e generoso, que Deus nos tem, acolher os mais débeis e afastados das fontes da vida. E partem pelos “quatro cantos da Terra” a anunciar a vocação sublime de todo o ser humano, a apreciar e a cuidar a dignidade do seu corpo ( toda a sua pessoa), a construir relações na base da regra de ouro “ tudo o que queres para ti, fá-lo aos outros”, a reconhecer que só a civilização do amor manifesta, o melhor possível, a convivência sustentada em sociedade e redimensionada na cultura, a vocação de toda a humanidade.
Vinde ver é a resposta que nos interpela, sobretudo, na crise actual e nos impulsiona a congregar esforços para alcançarmos um sistema novo, em que se espelhe o respeito pela dignidade inviolável de cada um e de todos.
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NOTA: Foto da rede global