A Paz... sempre presente, na luta dos estudantes
Maria Donzília Almeida
O Dia Mundial da Paz foi criado pelo Papa Paulo VI, com uma mensagem do dia 8 de dezembro de 1967, para que fosse celebrado no primeiro dia do ano civil, 1 de janeiro, a partir de 1968.
A proposta de dedicar, à Paz, o primeiro dia do novo ano não pretendia ter uma conotação apenas religiosa ou católica. Pelo contrário, pretende galvanizar todos os verdadeiros amigos da Paz.
A Igreja Católica, com intenção de servir e de dar exemplo, pretende simplesmente lançar a ideia, com a esperança de que ela venha não só a receber o mais amplo consenso no mundo civil, mas que também encontre por toda a parte muitos promotores, avisados e audazes. Quer imprimir-se ao Dia da Paz, um caráter sincero e forte, de uma humanidade consciente e liberta dos seus tristes e fatais conflitos bélicos.
O dia 21 de setembro é considerado o Dia Internacional da Paz. Em 1981, as nações foram convidadas a celebrar a paz nesse dia, por terem sido iniciados os trabalhos na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Esse dia é conhecido como um dia de cessar-fogo e de não violência, em todo o mundo.
Em 21 de setembro de 2003, o então secretario – geral da ONU, Kofi Annan, na abertura da Assembléia Geral, passou a seguinte mensagem:
“O Dia Internacional da Paz deve ser também, para a comunidade internacional em geral, uma pausa para reflexão sobre as ameaças e desafios que enfrentamos. Em algumas partes do mundo, há a percepção de que as principais ameaças à paz e à segurança são as novas e potencialmente mais virulentas formas de terrorismo......”.
Em 21 de setembro de 2006, Kofi Annan deixaria a última mensagem, como Secretário-Geral, em prol da paz:
“Para alguns de nós, a paz é uma realidade quotidiana. As nossas ruas são seguras e os nossos filhos vão à escola. Quando o tecido social é sólido, os preciosos dons da paz quase passam despercebidos.........”.
Em 2001, Kofi Annan recebeu o Premio Nobel da Paz. Infelizmente, os seus esforços, assim como os de outros milhões de pessoas espalhadas pelo mundo, são pouco, diante da fragilidade da paz no planeta.
A paz, pela sua dimensão social, humana, filosófica, sempre apaixonou a juventude e alimentou os seus ideais de generosidade e altruísmo, abraçando de coração aberto, causas nobres deste jaez.
Assim, os hippies foram um movimento de contracultura que surgiu nos anos 60 do século passado, nos EUA e estavam no seu apogeu, pela altura em que Paulo VI proclamava o Dia Mundial da paz. Foi um movimento contemporâneo da minha juventude, que marcou indelevelmente a minha vida académica. Tenho, bem vivos na memória, Scott Mckenzie e a canção estandarte, que ele cantava no seu American English. Esta língua era música para os meus ouvidos! “If you are going to S. Francisco...”, foi o expoente máximo deste período de fervor pacifista.
Um dos lemas deste movimento, foi a célebre máxima "Peace and Love" que precedeu a expressão "Ban the Bomb", a qual criticava o uso de armas nucleares.
As questões ambientais e a emancipação sexual eram ideias respeitadas, recorrentemente, por estas comunidades.
Para se demarcarem pela diferença, usavam roupas velhas e naturalmente rasgadas, em oposição ao consumismo, ou então roupas com cores berrantes de modelos exóticos, como calças à boca-de-sino, que haveriam de fazer furor na juventude de todo o mundo.
Tinham predileção por certos estilos de música, como The Beatles, Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Pink Floyd, Bob Dylan, etc. etc. Às vezes, tocavam músicas nas casas de amigos ou em festas ao ar livre, como na famosa "Human Be-In" de San Francisco, ou no Festival de Woodstock em 1969. O amor livre era, também, uma prática defendida pelos Hippies, que o apregoavam através do slogan difundido por todo o mundo: “Make love, not war!” e muito “acarinhado” pela juventude!
Ideais anarquistas de comunidades igualitárias e total liberdade, não violenta, eram partilhados por eles.
A vida decorria em comunidades, onde eram repudiados todos os ditames do capitalismo. Por exemplo, todos os moradores exerciam uma função dentro da comunidade, as decisões eram tomadas em conjunto; normalmente era praticada a agricultura de subsistência e o comércio entre os moradores era realizado através da troca. Existem comunidades hippies espalhadas no mundo inteiro.
O incenso e meditação são parte integrante da cultura hippy pelo seu caráter simbólico e quase religioso. Há o culto pelo prazer livre, seja ele físico, sexual ou intelectual. Repudiam a ganância e a falsidade.
Quanto à participação política, mostravam algum interesse, mas nunca de maneira tradicional. Eram adeptos do pacifismo e, contrários à Guerra do Vietname Nos EUA, pregaram o "poder para o povo". Muitos não se envolveram em qualquer tipo de manifestação política por privilegiarem muito mais o bem-estar da alma e do indivíduo, mas assumem uma postura tendente à esquerda, geralmente elevando ideais anarquistas ou socialistas. São contra qualquer tipo de autoritarismo e preocupados com as questões sociais como a discriminação racial, sexual, etc.
Os jovens sempre foram associados à contestação do status quo, às vezes gratuitamente, outras vezes, revestindo essa contestação de uma causa humanitária. Os sinais dessa cultura de resistência, aparecem inscritos, por todo o lado, em paredes, nos grafitti e até nos bancos da escola. Foi aí, na FLUC (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) que, na minha passagem por lá, deparei com a inscrição:” Fighting for peace is like fucking for virginity!”, no assento de um enorme anfiteatro!
A Paz... sempre presente, na luta dos estudantes!