Um texto de Maria Donzília Almeida
Museu do Holocausto
Há homens de “estatura”...
e os pequenos homens!
O Holocausto foi a maior mácula da história alemã, atribuída ao ditador Adolf Hitler. É, aliás, associado a esta personagem sinistra, o tom demagógico, tenebroso, sustentado pela característica gutural da língua alemã, verbalizado no vocativo: “Deutsche Frauen und Herren...”. Com todos os rr bem vincados... na boca do ditador... era o melhor isco para inflamar o sentimento patriótico da raça ariana! Constatei isso, quando estudei a língua alemã.
A palavra Holocausto tem origens remotas, em sacrifícios e rituais religiosos da Antiguidade, em que plantas, animais e seres humanos, eram oferecidos às divindades e queimados durante o ritual. Passou a significar cremação dos corpos.
Após a Segunda Guerra Mundial o termo Holocausto foi utilizado, para referir o extermínio de milhões de pessoas que faziam parte de grupos politicamente indesejados pelo regime nazi: judeus, comunistas, homossexuais, ciganos, eslavos, deficientes, prisioneiros de guerra soviéticos, membros da elite intelectual polaca, russa e de outros países do Leste Europeu. Incluía também ativistas políticos, testemunhas de Jeová, sacerdotes católicos, membros mórmons e sindicalistas, pacientes psiquiátricos e criminosos de delito comum. Todos esses grupos pereceram, lado a lado, nos campos de concentração.
A atitude discriminatória e de completo menosprezo dos Nazis pela dignidade e pela vida das comunidades de judeus representa uma grave violação de vários Direitos Humanos Fundamentais. Foi, nesta conjuntura, que as Nações Unidas fizeram, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e deram oportunidade à criação do Estado de Israel. Este processo histórico de alienação coletiva conduziu ao “Inferno de Auschwitz” que começava com o degradante transporte dos prisioneiros em vagões de gado, sem quaisquer condições higiénicas. Eram conduzidos aos diversos instrumentos de extermínio: câmaras de gás, campos de trabalho e fuzilamentos.
Em conclusão, não deve ser esquecido da memória coletiva da Humanidade, este abominável acontecimento histórico e daí que as ruínas dos campos de concentração de Auschwitz tenham sido classificados como Património Cultural da Humanidade, em 2002, pela UNESCO. Ao mesmo tempo, os notáveis e incomensuráveis filmes feitos sobre este fenómeno, “A lista de Schindler”, “O pianista”, “A vida é bela” e muitos outros têm vindo a despertar a opinião pública para uma consciência moral que radique numa sabedoria histórica. Que nunca esqueçamos o horror que foi o Holocausto.
Para mostrar ao mundo as atrocidades cometidas contra o povo judeu, foram criados, em vários países, museus, como testemunho vivo da história alemã.
Em 1953, cinco anos após a criação do estado de Israel, foi criado em Jerusalém, o Museu do Holocausto, ou Yad Vashem. Dedicado à memória do genocídio praticado pelos nazis durante a 2.ª guerra mundial, quando pelo menos seis milhões de Judeus foram espoliados, deportados e mortos, o museu é um enorme arquivo sobre o tema. Além de várias exposições e memoriais, abriga 55 milhões de documentos, incluindo passaportes, registos de confisco de bens, deportações, etc. Guarda dois milhões de páginas de testemunhos de sobreviventes, em cerca de 20 línguas. O museu já recebeu visita de personalidades como João Paulo II e o cineasta judeu, Roman Polanski, diretor de “O Pianista”, que encontrou, no museu, o registo do seu pai, num campo de concentração. Todo este património ocupa, no museu, uma área de 180 mil m2 em que desde o jardim até uma ambulância lembram as vítimas desta história. Fui testemunha ocular deste horror nazi, em 2007, aquando da minha visita a este museu. Neste contexto da história da humanidade, houve um português que se demarcou como protagonista e herói, em prol dos perseguidos e deportados. Os homens são do tamanho dos valores que defendem. Por isso há homens de “estatura”... e os pequenos homens! Nasceu em 19 de Julho de 1885, na localidade de Cabanas de Viriato, perto de Mangualde e licenciou-se em Coimbra em 1907.
Aristides de Sousa Mendes
Aristides de Sousa Mendes foi, talvez por isso, um dos poucos heróis nacionais do século XX e o maior símbolo português saído da II Guerra Mundial. Em 1940, quando era cônsul em Bordéus, protagonizou a "desobediência justa". Não acatou a proibição de Salazar de se passarem vistos a refugiados: transgrediu e passou 30 mil, sobretudo a judeus. Foi demitido compulsivamente, vendo a sua vida desmoronada. É o herói vulgar. Não estava preso a causas. Estava preso a uma questão fundamental: a sua consciência" e só quem tem “uma”, saberá compreender! Aristides de Sousa Mendes foi o "Schindler português" muito antes de o alemão começar a sua atividade humanitária em prol dos judeus. Foi o homem como metáfora do humanismo. Em 1938, após Salazar recusar o seu pedido para permanecer na Bélgica, é colocado em Bordéus. Em 1939, com o rebentar da II Guerra Mundial e, em 1940, devido à invasão da França pelas tropas alemãs, milhares de refugiados fogem para sul. Com a proibição de Salazar, de se passarem vistos a refugiados, sobretudo a "israelitas", Aristides de Sousa Mendes segue a sua formação humanista e católica e desobedece. Passa milhares e milhares de vistos àqueles fugitivos. Concede vistos sem olhar a nacionalidades, etnias ou religiões. Graças a ele, Portugal ficou na história, como um país que apoiou os refugiados durante a II Guerra Mundial. A sua estátua, em Bordéus, atesta o tributo dos Franceses, a este herói português!
27.01.2012