Os reis
Muita animação, trajes mais cuidados,
autos e melodias habituais
Com uma participação de 60 anos no Cortejo dos Reis, Milu Sardo mostra a alegria de mais uma vez marcar presença, ativa e empenhada, nesta festa do povo da Gafanha da Nazaré, que hoje se realizou. Começou, menina, por influência do pai, Manuel Soares Sardo, já falecido, um grande animador do Cortejo e outras festas da nossa paróquia, nas quais punha em prática a sua arte de carpinteiro e de outros saberes.
Milu garante que continuará a participar «enquanto tiver vida e saúde», porque ficou com esse «bichinho» para sempre. Como catequista não deixará de motivar as crianças para esta vivência de raízes seculares na comunidade da Gafanha da Nazaré. E sublinha que as crianças da catequese apresentaram, desta vez, um carrinho que representava o presépio.
Milu Sardo
Voltando ao seu pai, recorda que ele foi toda a vida uma «pessoa dedicada à Igreja, procurando fazer coisas que pudessem ser úteis». Para o Cortejo dos Reis, Manuel Sardo fez cinco barcos (moliceiro, saleiro, dóri e outros), maquetes da igreja matriz antiga e do farol, uma marinha com o seu monte de sal e uma padaria, «onde íamos todos a vender pão e que ainda hoje se pôde ver no Cortejo».
Neste domingo sereno, luminoso e sem vento nem frio, o Cortejo dos Reis seguiu o tradicional percurso, desde Remelha até à igreja matriz, passando pela Cale da Vila, Chave, Bebedouro, Marinha Velha e Cambeia.
Autos próprios da quadra, cânticos que o nosso povo sabe de cor ou trauteia, cantoras e músicos de todas as idades, carros ornamentados e participantes com trajes antigos. Tudo culmina com o beijar do Menino Jesus, depois do Rei Herodes ter recebido os Reis Magos, a quem pediu que lhe dessem informações sobre onde estava o prometido Messias, porque também gostaria de O visitar. Os Magos partiram, mas não mais lhe apareceram, por pressentirem os seus ruins instintos.
Alguns músicos. José Serafim, à direita
Depois, seguiu-se o leilão dos presentes, no salão Mãe do Redentor, cujo rendimento reverterá para as obras da nova Casa Paroquial.
José Maria Serafim Lourenço também é um veterano do Cortejo. Começou há décadas. Primeiro como simples participante e depois, com os seus 16 anos, já músico, para acompanhar as cantoras. Desta feita estranhámos a falta do seu irmão Manuel, por razões de luto, pelo falecimento de uma familiar. O José, que já caminha com dificuldade, lá estava com o seu banjo e com uma ou outra boleia, para amenizar as dores das costas. E disse que esta tradição precisa de ser preservada.
Padre César abre a saca, à espera de algum contributo
Na curta conversa que manteve connosco, disse: «É uma pena não termos um DVD para preservarmos os autos, os cânticos e tudo o mais que constitui o Cortejo; em cada lugar, as pessoas aí residentes apreciam os autos e os cânticos apresentados ao pé da sua porta; portanto, nem toda a gente pode ver tudo cada ano; e com um DVD muitas pessoas ficariam a conhecer toda a riqueza que isto é.»
José Serafim frisou a «carolice» de tantos gafanhões que se envolvem nesta festa, ano após ano, notando-se um número elevado de jovens que, com a sua contagiante maneira de ser, dão mais cor e alegria ao Cortejo.
Trajes mais cuidados
Escuteiro sempre presentes
Na opinião de alguns, neste Cortejo terá havido uma certa redução de participantes, porventura pela crise económica e social anunciada e por muitos bastante sentida. Mas pudemos registar uma significativa melhoria nos trajes exibidos. Duas jovens, vestidas a rigor, confidenciaram-nos que as roupas, bem cuidadas, foram procuradas nas arcas de avós e bisavós. Com outros, ter-se-á passado a mesma coisa. Ainda bem que o espírito de renovação se vai impondo.
Fernando Martins