Rua D. Carlos
O Rei Diplomata
também foi um mártir
também foi um mártir
A Rua D. Carlos estende-se desde a Av. José Estêvão até à Rua São José. Trata-se de uma via que é, afinal, uma homenagem ao penúltimo rei de Portugal. Filho de D. Luís e de D. Maria Pia de Saboia, italiana, nasceu na Ajuda, em Lisboa, em 28 de setembro de 1863, e morreu assassinado em 1 de Fevereiro de 1908, no Terreiro do Paço, quando regressava a Lisboa de uma estada em Vila Viçosa, no palácio que ainda existe e que pertenceu aos Duques de Bragança seus antepassados. Sucedeu a seu pai em 1889.
A sua morte, por obra da Carbonária, uma sociedade secreta que defendia a instauração da República de forma violenta, foi explorada por outras correntes políticas, para pôr fim à Monarquia, a qual, desde 1143, foi construindo uma Nação e um Estado, bases do país que somos hoje.
D. Carlos recebeu o cognome de Diplomata, pela facilidade com que se relacionava com reis e presidentes dos países mais importantes de então e com os quais se tornara importante estabelecer contatos comerciais e outros. Nessa linha, visitou Madrid, Paris e Londres, tendo recebido, na capital portuguesa, os reis Afonso XIII de Espanha e Eduardo VII do Reino Unido, o Kaiser Guilherme II da Alemanha e o presidente da República Francesa Émile Loubet.
Aberto à democracia, com se prova pela liberdade dada à comunicação social que não se coibia de o criticar, D. Carlos teve o senão, imperdoável para a seu reinado, de patrocinar a ditadura de João Franco. Foi esta sua atitude que acicatou os ânimos dos republicanos, moderados e revolucionários, com especial destaque para a Maçonaria e a Carbonária. Com o regicídio, levado a cabo por Manuel Buíça e Alfredo Costa, membros da Carbonária, estava a porta aberta para a instauração da República, o que aconteceu em 5 de Outubro de 1910. Aliás, quando em Vila Viçosa assinou o decreto de nomeação de João Franco, terá dito: «Assino a minha sentença de morte, mas os senhores assim o quiseram.»
Depois destas curtas notas históricas, é justo lembrar que D. Carlos foi um rei com interesses na fotografia, na agricultura e na oceanografia, bem como na pintura. Nesta área, deixou-nos telas com uma sensibilidade muito própria.
Por outro lado, D. Carlos era uma personalidade muito popular, relacionando-se facilmente com toda a gente com quem lidava e com quem se encontrava nas suas andanças pelo país e pelo oceano. Neste caso, é justo sublinhar que o rei tinha estima pelo nosso arrais Ançã, com quem se cruzara nas viagens de estudo no Atlântico. O rei chegou inclusive a recebê-lo nas Necessidades, quando o arrais o procurou, em Lisboa, para reclamar a pensão que lhe havia sido prometida há três anos.
Fernando Martins