O maior e o mais importante
jornal de Portugal
António Marcelino
Não sei se este grande jornal chega aos ministérios e aos serviços do Estado, mormente aos sociais. Era bom que chegasse e, em cada dia, o trabalho se iniciasse com uns minutos breves do que nele se diz. Tudo seria diferente. Os ministérios não fazem milagres, mas o amor fá-los todos os dias. Matar ou desconhecer o amor é, de todas as pobrezas, a maior.
Indiscutivelmente, O GAIATO. Eu, leitor de muitos jornais, não tenho dúvidas em o afirmar. Riam-se de mim, chamem-me tolo. Sei o que digo e porque o digo. É a minha opinião, tenho liberdade para a exprimir. Chega. Quem me ler saberá ler para além do que escrevi.
Porquê o maior e o mais importante dos jornais que se publicam? Porque nele tudo é vida, tudo amor aos outros, tudo sinal de esperança, tudo a olhar o maior bem dos mais pequenos, dos mais pobres, dos menos amados. Tudo a desinstalar os que aí, assim se encontram. Tudo para os cristãos, a gritar que o que não é amor efectivo é palha. Mesmo para outros, para que venha ao de cima o que de bom têm lá dentro.
Quatro páginas apenas. Tudo para ser lido, do princípio ao fim. Por ali passa, em cada número, a memória viva de Pai Américo. Não como recordação nostálgica, mas como fonte inspiradora dos que continuam a sua obra, com igual amor e dedicação. Por ali passa a heroicidade de vidas que, há dezenas de anos, sem folgas, nem férias, vivem com alegria a procura de resposta para o que falta. Vida heróica as daqueles Padres da Rua, gastos num trabalho, a tempo inteiro, que só Deus sabe ler e recompensar. Por ali passa o Evangelho vivo e incómodo, interpelador e convidativo. Com crianças que souberam o que era a rua e a falta de amor e carinho, com deficientes que vão descobrindo, por contágio de quem vive com eles, que a vida tem sentido e por isso tem valor. Por ali passam os milagres que a Providência opera em Setúbal, em Miranda do Corvo, em Paço de Sousa, em Malange, em Benguela, no Maputo e, sobretudo, no Calvário (em Beire, Paredes), a casa do milagre maior.
Tiragem de Novembro: 46.350 exemplares. Venda ao público: 0,33 cêntimos cada jornal. A quem será isto indiferente?
Quatro páginas! Para quê mais? Jornal não é papel, muito papel com letras. O seu valor não está em função do número de páginas e do seu peso, que, por vezes, é tanto que já precisa de saco.
Jornal de verdade, é ele uma mensagem viva. É traço de união. É apelo solidário. É despertador do coração. É conciliador de diferenças. É mostruário de chagas, sem humilhar os chagados. É instrumento de paz, de progresso humano, de relações fraternas. O GAIATO é tudo isto, desde os tempos do Padre Américo. Continua a ser isso mesmo sem perigo de se desvirtuar. Nele escreve apenas gente da Casa, fiel ao espírito de sempre, com respeito total pelas pessoas, por cada pessoa e pela vida concreta, com a beleza de quem dá e sente, de quem recebe e agradece.
Quem o faz não procura louros. Serve pessoas, acorda a sociedade, fala de fraternidade, procura que o amor vença, sempre e em tudo. Pede, mas não para si. Mostra problemas, que não os seus pessoais, mas dos que lhe andam colados ao coração, por motivo da missão.
Deitar fora O GAIATO depois de o ler é uma profanação e uma omissão grave. Outros podem ser inquietados com a sua leitura? Pois que o sejam. Foi assim que eu o conheci, que lhe ganhei amor, que o espero e recebo com alegria, o leio há cinquenta anos. Tudo, porque quem o assinava, tinha o cuidado de o pôr na minha e nas nossas mãos de jovens sonhadores.
Não sei se este grande jornal chega aos ministérios e aos serviços do Estado, mormente aos sociais. Era bom que chegasse e, em cada dia, o trabalho se iniciasse com uns minutos breves do que nele se diz. Tudo seria diferente. Os ministérios não fazem milagres, mas o amor fá-los todos os dias. Matar ou desconhecer o amor é, de todas as pobrezas, a maior.