Em memória das vítimas de acidentes
de trânsito e seus familiares
Maria Donzília Almeida
Com o aumento do parque automóvel, resultante da melhoria das condições de vida da classe trabalhadora, houve um acréscimo de sinistralidade, com as suas funestas consequências. Havendo mais caros a circular e mais e melhores estradas, para se circular, é inevitável que os acidentes ocorram. Quem não se lembra, aqui, na zona das Gafanhas, dos acidentes mortais, em que pereceram tantos jovens, na flor da idade? Na altura eram as motos o veículo mais usado, porque mais acessível, a causa da perda de vidas. Os mancebos, em toda a pujança da vida, identificavam a sua virilidade, com a posse daquele veículo potente, que conduziam. Ainda hoje, as coisas não mudaram, significativamente; quando de vê alguém, conduzindo um descapotável, faz-se um juízo sui generis, do condutor!
O fascínio pelas altas velocidades, aliado a um certo pendor exibicionista, sempre foi apanágio do sexo masculino, sobretudo nas classes mais jovens!
Estando atentos aos mass media, facilmente se poderá constatar que não há um dia em que um acidente de viação, não ocorra em qualquer parte do mundo.
A sinistralidade rodoviária, grave, está a aumentar em Portugal (mais 85 mortos e mais 4 000 acidentes que em 2001). Hoje, não há uma família portuguesa que não tenha sofrido a perda de algum membro nas estradas ou ruas do país. Mas este fenómeno, sendo grave em Portugal, preocupa todos os países europeus. Em cada dia que passa, cerca de 150 pessoas morrem nas estradas europeias e 10 000 são feridas. Há mais de 40 000 mortes, por ano, na União Europeia. O preço em termos de perda de vidas humanas, dor e cuidados médicos, não tem paralelo em nenhum país que não se encontre em situação de guerra. Durante o século XX morreram 25 milhões de seres humanos em desastres rodoviários – tantos quantos morreram durante a 2ª Guerra Mundial. E, em Portugal, morreram nos últimos vinte anos mais portugueses que durante a guerra colonial.
Face a esta tragédia, a FEVRE (Federação Europeia das Vítimas da Estrada) da qual a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados faz parte, decidiu incentivar, desde há vários anos, a promoção de um Dia Europeu em Memória das Vítimas de Acidentes de Viação, com serviços religiosos em muitas igrejas e catedrais europeias, bem como comemorações laicas.
Mais de 90 por cento dos acidentes rodoviários estão associados ao incumprimento das mais elementares regras de trânsito, e têm como principais causas:
O desrespeito pelas regras de trânsito;
O excesso de velocidade;
A condução em estado de embriaguês;
O cansaço/sonolência;
A irresponsabilidade/Falta de respeito pelos outros; Hardly a day goes by that a fatal road accident does not make news headlines somewhere in the world.
Os automobilistas não têm consciência de que a sua vida assim como a de outras pessoas, que circulam na via pública, depende da sua atitude e do seu bom senso. Portanto, deve-se pautar por um comportamento aceitável como forma de reduzir o índice dos acidentes de viação que vêm ceifando cada vez mais vidas.
A Federação Europeia de Vítimas da Estrada (FEVR) iniciou em 1993 a celebração anual do Dia Europeu em Memória das Vítimas da Estrada.
Em 2002, o Sumo Pontífice, Papa João Paulo II, perante o aumento exponencial do número de vítimas de desastres rodoviários no mundo, promoveu a transformação deste Dia Europeu em Dia Mundial
Em 2005, a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou em Resolução a adopção oficial, por aquele organismo internacional, do Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada
O espírito desta celebração é de que a evocação pública da memória daqueles que perderam a vida ou a saúde nas estradas, significa um reconhecimento, por parte do Estado e da sociedade, da trágica dimensão da sinistralidade, e ajuda os sobreviventes a conviver com o trauma de memórias dolorosas resultantes de acidentes rodoviários.