Sobre a Frustração
Inês Teotónio Pereira
As crianças, por definição, acham que podem fazer o que querem. Eles nascem assim: se têm fome, têm de comer já, se têm sono, têm de dormir imediatamente, se querem brincar com a chave do carro que está em cima da prateleira de vidrinhos, têm de trepar a prateleira de vidrinhos. É assim que funciona a sua cabecinha e elas não acham concebível que o mundo funcione de outra maneira. Muitas vezes, quando os pais se apercebem que em vez de filhos estão a criar monstrinhos, já é tarde de mais: eles já não aceitam um “não” como resposta, choram mais do que falam e gritam mais do que riem.
Até que vão para a escola. E na escola inicia-se o processo de iniciação à frustração. Ali, os meninos têm de funcionar em grupo, têm de respeitar hierarquias e as ordens não são meros conselhos. Não é mesmo não. Os meninos aprendem aqui a viver e a conviver com as frustrações, quer os pais queiram ou não. Hoje, cabe também aos professores e educadores a função de explicarem a uma criança que nunca fez a cama ou levantou o prato da mesa, que tem de fazer os trabalhos de casa, de arrumar a cadeira, de pôr as tampas nas canetas e não pode falar nas aulas.
O meu filho revelou-me recentemente que gosta da escola mas acha “que os professores tornam a escola uma seca”, (que é a mesma coisa que dizer que gosta de omeletas, mas gostava mais se elas não tivessem ovos). Ou seja, para ele a vida devia ser uma festa contínua, aulas incluindo, e os professores são um obstáculo à rambóia, são uma espécie de “horas para chegar a casa”. Conclusão: está tudo bem na escola, o processo de desenvolvimento da minha criança está saudavelmente em curso. Com a preciosa ajuda dos professores dele.
Escreve quinzenalmente à sexta-feira no jornal i