Algarve (foto do meu arquivo)
Férias para todos ou ainda só para alguns?
«Muitas instituições particulares de solidariedade social têm proporcionado uns dias de praia às crianças. Algumas destas instituições, pelas restrições a que têm sido sujeitas, vão deixando de o poder fazer. Outras, com dificuldade embora, têm continuado a proporcionar este bem.
Recordo que uma diocese de Portugal, a de Coimbra, promoveu, há tempos, férias para filhos de pais desempregados. Não poderão outras entidades fazer o mesmo? Não poderão também algumas famílias assumir nas suas férias uma ou mais crianças que precisem de sol e mar e que os pais não lhos podem dar?»
É evidente que esta sondagem de rua não chega às pessoas que, hoje como ontem, têm meios suficientes e mais que suficientes, com casa de veraneio própria, e podem ainda multiplicar os dias e escolher os lugares, sem que com isso o orçamento balance. A igualdade desejável não significa uma uniformidade de meios, tocando, por igual, toda a gente. As diferenças vão perdurar e apenas seria desejável que estivessem mais atenuadas. Ninguém pode desejar que todos sejam igualmente pobres, já que não podem ser ricos. Deseja-se, sim, e é de justiça que se deseje, que a ninguém faltem meios que permitam uma vida digna e a possibilidade de usufruir não apenas do necessário, mas até do que permita opões pessoais e familiares legítimas, inclusivamente uns dias de férias. As férias são indispensáveis para quem trabalha, e nem sempre quem mais trabalha é quem mais delas usufrui.
É verdade que muitas pessoas mais velhas têm agora o que nunca tiveram ao longo de uma vida de muito trabalho, preocupações e canseiras. Abrem-se-lhes múltiplas possibilidades de descanso e de lazer: passeios em grupo pelo país, férias nos centros do Inatel, idas a lugares conhecidos das ilhas e mesmo da Europa… E muitos desfrutam, também, de meios de aprendizagem e de cultura que nunca a vida lhes havia proporcionado. Ainda bem. Resta, no entanto, a verificação de que as férias para quem ainda hoje trabalha profissionalmente e, mais ainda, em tempo de crise social, são um bem escasso e não ao alcance de todos. Penso, por exemplo, nas crianças do interior do país, necessitadas de mar. Fui beneficiado, na década de trinta, tal como uma das minhas irmãs, da riqueza e beleza do mar da Nazaré, juntamente com centenas de crianças do distrito. A Junta Distrital, à qual presidia um médico com sensibilidade e que pensava nos outros, promovia colónias de férias de alunos das escolas primárias, filhos de famílias modestas e, normalmente, com muitos filhos. Assim se respondia a uma necessidade, aferida por um cuidadoso exame médico. Não ia quem queria, mas quem mais precisava.
Muitas instituições particulares de solidariedade social têm proporcionado uns dias de praia às crianças. Algumas destas instituições, pelas restrições a que têm sido sujeitas, vão deixando de o poder fazer. Outras, com dificuldade embora, têm continuado a proporcionar este bem.
Recordo que uma diocese de Portugal, a de Coimbra, promoveu, há tempos, férias para filhos de pais desempregados. Não poderão outras entidades fazer o mesmo? Não poderão também algumas famílias assumir nas suas férias uma ou mais crianças que precisem de sol e mar e que os pais não lhos podem dar? Se não há gente a fazê-lo movida pelo amor gratuito, outros talvez não o façam por insensibilidade a esta situação ou por não quererem que alguém estranho à família perturbe as suas férias. Pequenos gestos com grande significado. Mas diz a sabedoria do povo que “ninguém sabe o bem que faz quando faz bem”.