D. Dinis: rei poeta e
lavrador
A Rua D. Dinis conduz-nos até ao século XIII, ao Rei
Lavrador, altura em que D. Dinis iniciou, em 1279, o seu longo reinado de 46
anos. Esta rua atravessa campos que outrora foram agricultados de forma intensiva.
Como as terras da atual Gafanha da Nazaré foram, durante séculos, de
lavradores, seria impensável não homenagear um rei a quem todos muito devemos.
Mas este rei, que impulsionou, como poucos, a agricultura, não se ficou por aí,
porque outros interesses, multifacetados, o moveram, para bem do povo e de
Portugal.
A sua biografia dá-nos conta do muito que desenvolveu D.
Dinis, que casou com Dona Isabel de Aragão, mais conhecida por Rainha Santa
Isabel, a do Milagre das Rosas, que serviu, muitíssimo bem, para ilustrar o seu
coração caritativo, quando transformou as esmolas que levava no regaço para os
pobres que a esperavam em rosas perfumadas.
Hábil diplomata, D. Dinis conseguiu salvar as riquezas da
Ordem dos Templários, extinta pelo Papa, transferindo-as para a Ordem de
Cristo, entretanto por si fundada. Esta Ordem haveria de desempenhar, mais
tarde, papel de relevo na gesta dos Descobrimentos. Desenvolveu o comércio,
mandou semear o pinhal de Leiria e organizou a marinha, contratando o genovês Manuel
Pezagno, que muito contribuiu para a formação dos nossos marinheiros e para a
defesa dos nossos interesses marítimos.
Educado na base da sabedoria medieval, por Domingos Jardo e
Ayméric d’Ebrard, este rei haveria de deixar as marcas da sua cultura no nosso
país. Assim, em 1 de março de 1290 cria a Universidade, hoje de Coimbra, com a
respetiva autorização do Papa, já que era a Igreja quem superintendia no
ensino.
Promoveu o uso da língua portuguesa, ordenando que os
documentos dos tabeliães, até aí escritos em latim, passassem a ser escritos em
português. E chegou mesmo a mandar traduzir para a nossa língua a “Crónica
Geral de Espanha”, o “Livro das sete partidas”, de Afonso X, e a “História e
Geografia da Península”, do escritor árabe Rasis de Córdova.
Como era muito inclinado para as artes, ele próprio foi um
poeta inspirado. Quem há em Portugal que não conheça as suas cantigas de amor e
de amigo do nosso Rei D. Dinis? Para alguns recordarem, aqui fica, porventura,
a mais célebre:
Ai, flores, ai, flores
do verde pino
Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e
u é?
Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e
u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e
u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
Ai, Deus, e
u é?
Vós me preguntades
polo vosso amigo?
E eu ben vos digo que é sano e vivo.
Ai, Deus, e
u é?
Vós me preguntades polo vosso amado?
E eu ben vos digo que é vivo e sano.
Ai, Deus, e
u é?
E eu ben vos digo que é sano e vivo
e seerá vosco ante o prazo saido.
Ai, Deus, e
u é?
E eu ben vos digo que é vivo e sano
e seerá vosco ante o prazo passado.
Ai, Deus, e
u é?
Fernando Martins