Piódão
Sortelha
Alma cheia e espírito renovado
Maria Donzília Almeida
Quem conheceu as Gafanhas em meados do século passado e compara com o aspeto que têm hoje, pode dizer, à boca cheia, sem margem para engano: — Qualquer semelhança é pura coincidência!
Na verdade, a Gafanha foi, outrora, um aglomerado rural e piscatório. A agricultura de subsistência praticava-se, paralelamente, com alguma atividade piscatória e ambas constituíam o sustento da população. Esta vivia em condições precárias e tinha um padrão de vida muito humilde.
Gradualmente a aldeia foi-se descaracterizando, podendo-se dizer, hoje, que nem é peixe nem carne! O tecido social perdeu a sua homogeneidade e integrou gentes de várias origens e múltiplas formações. A característica principal deste povo laborioso e persistente perdeu-se neste mar de gente que povoa as nossas escolas numa massificação problemática.
Fica uma palavra de apreço ao nosso presidente da Junta de Freguesia, que tem posto o seu dinamismo e energia ao serviço da comunidade que serve. Bem-haja!
Foi neste pano de fundo que surgiu a ideia do passeio escolar às Aldeias Históricas, habitual todos os anos.
Na madrugada de 13 de julho, rumou a terras de Aguiar da Beira o autocarro cheio de docentes e “paradocentes”, em ambiente de descontraída confraternização.
Seguindo pela A25, passámos por Viseu e a primeira aldeia que visitámos foi Linhares, situada na vertente ocidental da Serra da Estrela, de origem medieval. Com um passado rico em história é um autêntico museu ao ar livre. As pedras das ruas contam histórias fantásticas, e são um repositório da importância que teve no passado.
Pertence ao concelho de Celorico da Beira e oferece uma vista de paisagem deslumbrante, num enquadramento de montanha, onde parece estar aninhada e protegida.
Há a salientar o castelo de arquitetura militar, mas também românico e gótico. Linhares passou a ser portuguesa, quando recebeu o foral de D. Afonso Henriques, em 1169.
Mais uma estirada e uma breve passagem por Belmonte, trouxe à memória a história de Pedro Álvares Cabral e a maior comunidade judaica, com as suas vicissitudes.
Mais uma etapa e eis-nos em Sortelha, aldeia que foi ocupada nos séculos XII e XIII e representava um lugar estratégico no domínio de toda a região envolvente. D. Manuel construiu o pelourinho e concedeu-lhe o foral.
O seu castelo é considerado monumento nacional desde 1910.
Por fim, para finalizar o nosso périplo por terras de Portugal, visitámos uma das mais bonitas aldeias históricas do país, Piódão! Fica situada na encosta da Serra do Açor, no concelho de Arganil. As suas casinhas de xisto, com janelas pintadas de azul, descendo graciosamente a encosta, em anfiteatro, conferem à aldeia, a imagem de um presépio. É uma aldeia serrana, de cariz rural, onde o homem com a sua tenacidade, venceu as agruras deste lugar inóspito. Devido às dificuldades em trabalhar a terra, houve um grande surto de emigração que fez perder-se a força viva da terra. O turismo e o artesanato estão a devolver à aldeia a sua vitalidade essência.
Por fim, de alma cheia e espírito renovado, voltámos à nossa vila, à beira-mar plantada! Que contraste!
17.07.2011