Com arquinho e balão os marchantes desfilaram
Maria Donzília Almeida
Com arquinho e balão
Os marchantes desfilaram
Na vila da Encarnação
E o público encantaram!
As meninas donairosas
Com pares bem alinhados
Cheias de cor, glamourosas
Em movimentos ritmados
O tecido dos namorados
A marcha engalanava
E em passos bem ensaiados
A música muito ajudava!
DA
A vila da Encarnação deu cartas, na noite de 24 de Junho. Uma mostra de marchas populares, das freguesias vizinhas, teve lugar no largo da igreja que fora devidamente sinalizado para o evento.
Sem ser, propriamente uma tradição destas terras, a comemoração dos santos populares, em marchas, está aqui a copiar-se o que é genuinamente português, embora de outras cidades. O mesmo não acontece com o fenómeno do carnaval, em que se fez uma importação direta do espetáculo carioca.
Reportando-me aos meus tempos de meninice, os santos populares coincidiam com a chegada do verão e de temperaturas mais agradáveis. Nos campos, as mulheres afadigavam-se na rega do milho, que por esta altura estava com a bandeira cheia de pólen. Era altura de “arriar a bandeira” como se dizia em gíria agrícola. Pelo meio do milho alto e sobrevoando as nossas cabeças, a zumbir, apareciam sazonalmente, uns besouros de tamanhos grandes e asas estriadas, os maiores, que faziam inequivocamente o anúncio da chegada da nova estação. Desconhecendo as taxonomias de classificação zoológica, o povo com o seu enorme pragmatismo, batizou estes insetos de: S. pedros, os maiores de asas às riscas; S.joões. os mais pequenos de asas de cor uniforme. Faziam um zumbido forte, característico e pousavam, muitas vezes virando-se ao contrário; se não tivessem patinhas, eu diria que “de pernas para o ar”!
Dada a relação de proximidade com estes bichinhos, depressa aprendi que eram inofensivos e tratava-os com o mesmo carinho que dedico ao cão, aos grilos, joaninhas, ouriços-cacheiros e tantas aves que passam por aqui. A todos englobo no mesmo atributo de “fofinhos”! Mesmo o ouriço-cacheiro, sim, não pela textura da pele, mas pelas emoções que despertam em mim. Este tem picos por fora, mas é fofo por dentro e... não faz mal nenhum ao homem. Apenas tem o instinto que a natureza lhe concedeu de se defender perante os predadores.
É com grande júbilo que nos dias de hoje, vejo ainda aparecerem por cá, os S. Pedros, grandes, de asas listradas e que me dão a grande esperança de pensar que ainda não estamos assim tão mal de poluição! Há aqueles, pessimistas, que até mudam de residência, em pânico com as alterações climáticas! Valha-nos o S. Pedro!
Era neste ambiente de bucólica musicalidade, que se comemoravam os santos populares. Faziam-se as fogueiras, no sentido literal da palavra, saltavam-se ao despique, rapazes e raparigas, que começavam aí os ensaios para futuros namoricos.
Mais tarde, durante a minha vida académica, na Lusa Atenas, também se organizavam as “fogueiras de S. João”, nome fictício dado aos bailaricos de cariz popular que pululavam por qualquer canto e esquina. Era a altura ideal para se fazer uma pausa nos exames e descomprimir das canseiras da vida de estudante. E... nas fogueiras de S. João, era certo e sabido que no calor da noite na vetusta cidade e embalados pela música trepidante, arranjava-se, sempre, um qualquer namorico que podia apenas durar o tempo que o santo abençoasse o casal! A autora destas linhas com o sangue a fervilhar-lhe, nas veias, não podia fugir à regra!
25.06.2011