quinta-feira, 23 de junho de 2011

Reflexão para o Dia do Corpo de Deus



SACIAR A FOME DE PÃO VIVO

Georgino Rocha

A fome é uma realidade visível interpelante que abrange todas as dimensões do ser humano: do alimento básico indispensável para a sobrevivência às razões consistentes do sentido da vida; da pobreza do espírito à auto-suficiência repleta de vacuidades; do egoísmo individualista à fragmentação do tecido social; da piedade devocional privativa às formalidades dos ritos religiosos comunitários, vazios e inconsequentes.

Superar a fome ou atenuar os seus efeitos é empreender a humanização da pessoa e das unidades sociais e religiosas em que natural ou opcionalmente se integra. Saciar a fome é desenhar horizontes aos limites das circunstâncias e definir passos a dar nos caminhos árduos da felicidade. Dominar a fome é saber gerir as necessidades e as capacidades para que o organismo, pessoal e social, mantenha um equilíbrio saudável e não falte o que é preciso nem sobre o que é supérfluo.

 Além desta sabedoria pessoal e da organização funcional das políticas públicas, há outras dimensões que o coração humano vai trazendo à consciência a fim de serem satisfeitas. Três merecem hoje destaque especial: reciprocidade no amor, dignidade no relacionamento e confiança no diálogo com o interlocutor.

O interlocutor, por excelência, é Deus que, em Jesus Cristo, se faz humano e assume um modo de proceder exemplar, como referem os relatos dos Evangelhos. Jesus restitui a muitos a dignidade perdida, liberta de “amarras” legalistas, a muitos outros, credencia com acções “de utilidade pública” a sua autoridade, atesta até às últimas consequências que a fonte do seu agir é fazer a vontade de Deus Pai.

Uma destas acções é a defesa intransigente da Verdade: Deus é amor, sois todos seus filhos, vivei como irmãos porque o sois, ponde os bens da terra ao serviço de todos e de cada um. Por esta verdade, aceita a morte e recebe o “prémio” da ressurreição.
E para “memória perpétua” faz a ceia do “pão vivo”, ceia de despedida com os amigos. Esta ceia é a eucaristia que a Igreja celebra em Sua memória.
A memória não é simples recordação, mas realização no presente daquela ceia memorável e penhor do banquete prometido a todos os que são fiéis aos seus ensinamentos. É o banquete da festa de família que será celebrado quando Deus for tudo em todos, o coração humano saciado de todas as suas fomes, as criaturas e toda a criação terem alcançado a liberdade gloriosa a que estão chamadas. 

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