Inês Amorim dá uma lição de história na exposição
A Gafanha da Nazaré não nasceu por causa do porto
«A Gafanha da Nazaré não nasceu por causa do porto, mas o porto, desde que nasceu, é uma peça importantíssima no desenvolvimento e crescimento da Gafanha da Nazaré, e, obviamente, de todo o município, de toda a nossa região», afirmou Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo (CMI), na inauguração da exposição — “A Barra e os Portos da Ria de Aveiro — 1808-1932” — que está patente no Centro Cultural da nossa terra até 30 de setembro. Trata-se de uma mostra que assinala o primeiro aniversário da reconversão do Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, um espaço cultural que, durante o último ano, acolheu mais de 16 mil utilizadores, como referiu o autarca ilhavense.
Centrando a sua intervenção na exposição, Ribau Esteves recordou os cidadãos que, «em primeira instância, tiveram que viver os prejuízos e que em primeira instância, também, têm a gestão dos lucros da existência do novo porto e do seu crescimento, que são ainda os da Gafanha da Nazaré». E acrescentou: «quisemos que durante três meses a Gafanha da Nazaré tivesse aqui, neste centro renovado, esta exposição, para compreendermos a história da nossa terra.»
Sublinhando a importância das parcerias, neste caso entre a CMI e a APA (Administração do Porto de Aveiro), o autarca disse que todos juntos seremos bem mais capazes de ultrapassar as dificuldades. «A cooperação institucional é sempre mais importante do que as diferenças de opinião que temos sobre as coisas», adiantou.
José Luís Cacho, presidente ao conselho de Administração da APA, lembrou que esta exposição, saída das comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, em 2008, e haurida nos arquivos daquela instituição, tem percorrido um circuito ibérico, passando, nomeadamente, por Lisboa, Coimbra, Estarreja, Ovar, Madrid, Valladolid, Figueira da Foz e Salamanca. Entretanto, garantiu que esta mostra «tem sido uma excelente bandeira», para o estabelecimento de parcerias comerciais, e não só.
Ao frisar o apoio de João Carlos Garcia e Inês Amorim (ambos professores da Faculdade de Letras do Porto), que comissariaram a mostra, José Luís Cacho referiu que importa, com esta iniciativa, «alargar horizontes», lançando, com oportunidade, o repto aos membros do conselho de administração da APA, no sentido de que seja aproveitado este Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, «uma obra de excelente qualidade», para as seus eventos culturais e sociais.
Inês Amorim, que apresentou a exposição com riqueza de pormenores, disse que as poucas peças expostas fazem parte de um grande espólio da APA. «Está aqui parte do património móvel», que a docente da Universidade do Porto já estudou, havendo muito que fazer. Disse que não estudou a perspetiva dos conflitos que se geraram ao longo da história do Porto de Aveiro, adiantando que viu «muitos no passado». E explicou: «O que está aqui é o resultado de séculos de colaboração e de manutenção de uma memória.»
Inês Amorim afirmou que o Porto de Aveiro «foi um desejo e uma projeção», projeção que continua nos tempos de hoje, deixando aos presentes o desafio de descobrirem se à escala local, regional, nacional ou internacional. Considerou que o nosso porto tem a sua especificidade própria, «sem cidade, que foi criado à medida das necessidades, que se aproximava do litoral enquanto o litoral oscilava», sendo o único, desse ponto de vista.
Enalteceu a questão tecnológica seguida pelos engenheiros e a sua capacidade de adaptação, bem como o esforço de todos os envolvidos. «Pessoas e bois que, voluntariamente, subsidiavam e trabalhavam, com objetivos, sobretudo quando tudo morria: peixes e salinas», disse. Concluiu, enaltecendo a importância da história, que não pode ser construída à nossa medida. «Nós temos a obrigação de divulgar e de relembrar o passado, construindo o futuro.»
Fernando Martins