Enfermeira
Madalena Cardoso
Madalena Cardoso
A vida não termina
com a aposentação
ou reforma
Madalena Cardoso, enfermeira, aposentada após 32 anos de serviço no Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro, assume a alegria de continuar, como voluntária, a fazer aquilo de que gosta. Depois de passar, como profissional de enfermagem, pelo Centro de Reabilitação de Alcoitão, fixou-se em Aveiro, onde se entregou a especialidades da sua preferência: ginecologia e obstetrícia, mas ainda, com mais fervor, à endocrinologia, na área da diabetes. No fundo, foi uma enfermeira sempre pronta para o que fosse preciso.
Os últimos 20 anos foram em pleno dedicados à diabetes, colaborando com especialistas deste setor, envolvendo-se como enfermeira-educadora, quer nas consultas externas da Diabetologia, quer no Hospital-Dia de Diabetes. E com a aposentação não deixou o hospital abruptamente, pois por ali continuou dois anos, como voluntária, no mesmo serviço. Razões familiares, posteriores, levaram a enfermeira Madalena a suspender essa tarefa. O voluntariado na vida espera-a. E não se fica só pela diabetes. Presentemente, está a apoiar uma doente com Alzheimer, estimulando-a a manter, dentro do possível, a sua autoestima, fundamental para uma melhor qualidade de vida.
Há muitas pessoas que associam a aposentação ou reforma a não fazer nada de útil pela sociedade. Nem sequer outras tarefas as apaixonam, limitando-se a dizer que agora chegou a hora do descanso. Madalena Cardoso, como tantos outros, não pensa assim nem quer pensar assim. Em conversa com o repórter do Timoneiro, fez questão de sublinhar que é fundamental darmos o nosso contributo, dentro das nossas possibilidades, à comunidade. Nessa linha, a enfermeira Madalena continua a colaborar com a Associação de Diabéticos do Distrito de Aveiro em diversas ações de formação destinadas aos diabéticos, cujo número, na nossa região e para além dela, se mantém em franco crescimento.
«A diabetes não estagna, está em permanente evolução», sendo garantido que «os métodos de prevenção e de tratamento, que se utilizavam há 30 anos, não são os de hoje». E acrescentou: «nas ações partilho experiências, conhecimentos e vivências que adquiri no contacto com os doentes, durante a minha vida profissional.»
Para além dessas ações, costuma colaborar em rastreios a nível distrital, nomeadamente, nas grandes superfícies comerciais e noutros locais, sempre que alguma entidade as organiza.
Madalena Cardoso lembrou, no decorrer da entrevista, a importância dos grandes encontros sobre esta área específica, como de outras, já que a visibilidade dos temas abordados são autênticos alertas dirigidos às pessoas concretas. E se se souber que a diabetes nem sempre é identificada pelos atingidos, então mais se compreenderá a oportunidade dessas iniciativas. O Fórum realizado em Aveiro, em 14 de novembro de 2010, Dia Mundial da Diabetes, em que participaram cerca de 2500 diabéticos do distrito, representou uma mais-valia para quem sofre ou venha a sofrer desta doença que não avisa quando se instala.
A nossa entrevistada alertou para fatores de risco, em especial a alimentação errada, a obesidade e o sedentarismo. E chama mesmo a atenção para alguns sintomas que poderão ser sinais claros de diabetes: cansaço, urinar mais do que o habitual, fome, perda de peso, excesso de sede («dá-lhes vontade de ficar sempre ligados à torneira»), problemas de visão, indisposição geral. Face a situações destas, urge consultar um médico, para se fazer o diagnóstico correto e o tratamento adequado.
Porque interiorizou as complicações que podem advir da diabetes, a enfermeira Madalena não descura a informação e os conselhos junto das pessoas que apresentam esses “avisos” claros da doença, mas não se fica por aí. Lembra sempre a conveniência de todos seguirem uma alimentação sadia, de se manterem ativos, de fazerem caminhadas diárias, de cuidarem da higiene dos pés, já que são muito conhecidos os casos de amputação de dedos e até dos membros inferiores. E dirigindo-se ao povo da nossa região, adianta: «Temos agora ali o nosso Jardim Oudinot, que é uma maravilha, onde todos podem caminhar, cada um ao seu ritmo, sem ser preciso gastar dinheiro.» E sublinha: «É necessário caminhar todos os dias, como quem toma um medicamento.»
Durante a entrevista, Madalena Cardoso deixava transparecer a todo o momento as orientações que dá a quem se cruza com ela, falando-lhe dos seus problemas de saúde. «A pessoa não pode fazer só duas ou três refeições por dia; tem de distribuir o que come nessas refeições por seis, diariamente, e não deve ficar sem comer mais de três horas, nem fazer jejuns prolongados de mais; esses jejuns fazem descer o açúcar no sangue, ao mesmo tempo que, quem os faz, fica “com uma fome louca, comendo a seguir este mundo e o outro”», salientou a nossa entrevistada.
Defendendo que os diabéticos podem e devem levar uma vida normal, a enfermeira Madalena alertou para a premência de se evitarem gorduras, fritos, doces (apenas nas festas pode o diabético deliciar-se com um ou outro bolo, sem abusar, mas apenas como sobremesa).
Quanto a alimentos recomendados, indicou a ingestão de peixes e carnes (magras e brancas) cozidos ou grelhados, «estufados só em cru», pouco sal e fruta somente no final das refeições, dando preferência ao peixe. Saladas e legumes também são indispensáveis, porém, logo afirmou que os hidratos de carbono (pão ou batatas ou arroz ou massa ou grão ou feijão, entre outros) não podem ser excluídos, porque são eles que «nos dão a gasolina para o motor poder trabalhar». Mais: água (1,5 litros por dia) ou chá de ervas, «pão com manteiga e não manteiga com pão».
Alertou para o cuidado a ter com os pés e os olhos, mas não deixou de frisar que a diabetes, afinal, quando houver descuido, afeta todos os órgãos do corpo humano. Contudo, a cegueira e a amputação de pés e pernas são uma ameaça que tem de ser tida em grande conta.
Madalena Cardoso, que hoje trazemos até aos nossos leitores, fala destas suas envolvências com paixão, acabando por dizer que, «se dermos um bocadinho do nosso tempo aos outros, conseguiremos prevenir muitos males causados pela diabetes». Nesse pressuposto, esclarece que é preciso organizar mais ações de formação, para incentivar as pessoas a terem mais cuidados com a sua alimentação e a fazerem exercício físico com regularidade. Ainda nos deixou a certeza de que a vida não pode terminar com a aposentação ou reforma.
Fernando Martins