quinta-feira, 5 de maio de 2011

Crónica de um Professor: Combater a indisciplina é um desafio para todos nós



Indisciplina

Maria Donzília Almeida

Combater a indisciplina, na escola, é um dos objectivos primordiais do governo e um desafio lançado a todos os professores. Com o passar dos tempos, o problema tem-se vindo a agravar, chegando às proporções alarmantes, que se verificam no nosso quotidiano. A cada passo, vêm, a lume, notícias de agressividade e violência que se passam em qualquer recanto deste nosso Portugal. 
Remontando às origens do problema, há quem se divida entre duas causas maioritárias: uns dizem que o indivíduo já nasce com o genes da indisciplina, pelo que se considera inato; outros há, que afirmam tratar-se de um problema de índole social e familiar, logo trata-se de um comportamento adquirido, que tem as marcas do meio envolvente, seja ele familiar, seja ele social. Há uma grande tendência para o segundo caso, atendendo à evolução social que se tem vindo a operar na sociedade portuguesa. A industrialização que tem vindo a ocorrer, desde o século passado, no nosso país, veio ao encontro da busca de emancipação da mulher. A necessidade de mais postos de trabalho deu, às mulheres, a possibilidade de trabalharem fora de casa, diminuindo, assim, a assistência prestada à família. Estando por sua conta e risco, as crianças ficam ao Deus dará, sem freio que as controle
A juntar a isto, depara-se, hoje, o país com uma certa efemeridade dos casamentos o que conduz a famílias desestruturadas e disfuncionais. Constituindo o alfobre dos princípios e valores, noutros tempos, a família descomprometeu-se dessa função, na medida em que os pais de demitiram dessa transmissão. Alguns, contudo remetem para a escola essa tarefa. No nosso dia a dia docente, constatamos que não pode haver, por parte dos pais, o divórcio dessa responsabilidade. Ainda que os pais se separem fisicamente, deve haver uma concertação de atitudes, para que as crianças não fiquem desamparadas. Muito menos se pode admitir aos pais que peçam contas aos professores por não terem conseguido o que eles próprios não fizeram. 
Foi neste contexto de indisciplina, que um dia, após muitas tentativas goradas de chamar à ordem os alunos infratores, congeminei uma ideia para sanar o problema. 
        Os alunos mais mal comportados e desordeiros foram “nomeados” assessores da teacher. O rapaz ficou como assessor de Informática; a rapariga assessora de Disciplina. Então, em que consistiam aquelas tarefas? O J. preparava o material eletrónico: computador e quadro interativo. Abria o PC, ligava o quadro, preparando assim o material, de forma célere e ufano por desempenhar aquele cargo tão importante! Assumiu de tal maneira o papel, que a partir daí parecia um cordeirinho manso, submisso à mãe ovelha. 
A aluna que se ocupava da aquietação dos ânimos, colaborava com a teacher na manutenção da ordem e da disciplina interna. E a aula, agora sem dois importantes focos de desestabilização, decorria sem sobressaltos. E tão a peito levou a sua nova função, de impor a ordem, que um dia, aparece na escola com uma farda militar! Havia-a pedido a um primo, sargento pára-quedista. É verdade! A assessora de disciplina, irrompe na sala de aula equipada com o uniforme militar, exibindo aos colegas o carácter bélico da sua nova função. Em vez de defender a pátria, impunha a ordem e o respeito pela autoridade estabelecida! 
         Quando os recursos se esgotam para a consumação dos nossos propósitos há que fazer soltar as molas da imaginação. Aquelas criaturas, sedentas como toda a gente de apreço e reconhecimento, sentiram, ali, a concretização desse desiderato. Tiveram o protagonismo que não conseguem alcançar pelos bons resultados da aprendizagem. O seu comportamento não lho permite. 
         O método resultou durante uns tempos, os ânimos serenaram e as aulas prosseguiram Algum tempo transcorrido, os “nomeados” para aqueles altos cargos, começaram a evidenciar sinais de fadiga, pois claro, as altas responsabilidades provocavam aquilo que eles ainda não tinham interiorizado, o stress! Nisto distinguem-se bem dos nossos políticos, que quando conquistam a cadeira do poder, ficam grudados a ela, como se ocupassem cargos vitalícios! 
Desiludam-se aqueles que se preparavam já para ”plagiar” a minha estratégia, pois com alguns alunos, nada resulta! E, como diz o povo, “ Para quem não quer, há muito”! 

04.05.11



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