Rua Gago Coutinho
Gago Coutinho:
Um português polivalente
que passou pela nossa terra
Fernando Martins
A Rua Gago Coutinho estende-se desde a Av. José Estêvão, mais propriamente do muito conhecido cruzamento das Caçoilas, perto da igreja matriz, até à rua Comendador Egas Salgueiro. É uma justa homenagem a um português polivalente na área da ciência, tendo ficado na história como o primeiro navegador, em parceria com Sacadura Cabral, a concretizar a travessia aérea do Atlântico Sul, ligando Lisboa ao Rio de Janeiro, em 1922, integrando, com toda a oportunidade e dignidade, os festejos do centenário da independência do Brasil.
Gago Coutinho foi, de facto, um cidadão fora do comum, distinguindo-se em tudo aquilo em que se envolvia. Foi geógrafo, oficial de Marina, cientista, navegador e historiador. Na altura em que aceitou o desafio de Sacadura Cabral, para que se dedicasse, também, à aviação, empenhou-se em desenvolver o Sextante de Bolha Artificial, instrumento indispensável à navegação. Este sextante veio mais tarde a ser comercializada por uma empresa alemã com o nome de “Sistema Gago Coutinho”.
Quando concluiu, em parceria com Sacadura Cabral, a ligação aérea entre Portugal e o Brasil, ambos foram recebidos apoteoticamente naquela nação irmã, com homenagens no Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. O mesmo aconteceu em Portugal, quando regressaram.
Entre nós, a Escola de Aviação Naval Almirante Gago Coutinho, de São Jacinto, foi criada em 20 de maio de 1925, «tendo funcionado, provisoriamente, no Centro de Lisboa, até 1933», como afirma Joaquim Duarte, no seu livro “Hidro-Aviões nos céus de Aveiro”.
No mesmo livro, o autor recorda que Gago Coutinho ainda se deslocou a São Jacinto «com a finalidade de ensaiar o seu “sextante”, instrumento de precisão que permitia navegar no ar com a mesma certeza dos navios no mar».
«Em 1946, o Almirante Gago Coutinho visitou a Escola com o seu nome. Foi a última vez que o ilustre marinheiro esteve em São Jacinto, onde foi recebido pelo Comandante Cardoso de Oliveira e por toda a guarnição que o acarinhou de modo especial», sublinha Joaquim Duarte.
Entretanto, o cientista recebeu largo reconhecimento público pela sua vida e obra, sendo promovido a contra-almirante e condecorado com as mais altas e prestigiosas distinções do Estado Português, além de ter recebido outras condecorações estrangeiras. Retirou-se da vida militar em 1939, tendo falecido em 18 de fevereiro de 1959, com 90 anos de idade.