Comemoração não é discurso e foguete não é festa
António Marcelino
Toda a gente teve coisas para contar sobre a independência da Guiné-Bissau, como pude constatar na recente visita ao país: perigos vividos, gente destruída, histórias de quartel, marcas de guerra… Os políticos ficaram-se por justificações, jogos diplomáticos, decisões inadiáveis… A independência era inevitável. Era um direito e há direitos que não prescrevem. Mesmo quando o poder os não quer reconhecer ou apenas os reconhece forçado. O tempo passado já permite comemorar de outra maneira, que é apreciar criticamente os resultados. Não há coragem para isso.
Por que é que na Guiné se sente a desconfiança, ou o medo, já nem sei? Porque grandes edifícios do poder colonial continuam em ruínas e abandonados nos melhores lugares de Bissau? Porque é que a cidade antiga de Bafatá, construída em lugar privilegiado, com gosto e arte, está ao abandono e apenas tem de cuidada a casa de Amílcar Cabral? Será que, ao longo de muitos anos, não fizemos nada, só guerra? Ou que o fizemos sem perspectivas, sem objectivos a ver com os locais na sua própria terra?
É tempo para avaliar, repensar e corrigir. A história ensina os caminhos do futuro, se provocar uma reflexão séria no presente.
Fonte: Correio do Vouga