Mestre Zé Vida
«Neste mês de Janeiro, em que se assinala o XII Aniversário do Grande Capítulo Gastronómico da Confraria do Bacalhau, dedicamos esta rubrica a José Vida dos Santos, cuja história de vida sempre esteve ligada à pesca do bacalhau e à gastronomia.
Nascido na Gafanha da Nazaré, a 18 de Março de 1928, o Mestre Zé Vida, como é conhecido, frequentou a Escola Primária da Cale da Vila, tendo concluído apenas a 1.ª classe. Após alguns anos a trabalhar na
Seca do Bacalhau, na “Pascoal e Filhos”, foi para o Estaleiro dos “Mónicas” como ajudante dos Mestres, decorria então a II Guerra Mundial. Aí ajudou a construir, entre outros, os barcos de guerra, conhecidos por Caça-Minas, cujo destino era a Inglaterra.
Sendo filho de um pedreiro e porque naquela altura só os filhos de pais marítimos tinham a possibilidade de obter a cédula marítima, lembra com saudade o Mestre João Mónica (sócio da empresa) que tratou desse assunto, bem como pagou a sua viagem de comboio até Lisboa, em Abril de 1945, para que o Mestre Zé Vida pudesse embarcar no “Lutador”, navio de madeira que ajudou a construir quando estava no Estaleiro.
Com dezassete anos de idade seguiu a vida marítima, inicialmente como ajudante de cozinheiro, rumo à Terra Nova e à Gronelândia para a pesca do bacalhau à linha, uma vida dura em que os homens saíam nos Dóris e pescavam o peixe que depois era transportado para o barco, escalado e salgado, numa rotina que lhes dava direito a apenas quatro horas de descanso.
Depois de nove viagens (9 anos) no Lutador, o Mestre Zé Vida embarcou no navio “Capitão José Vilarinho”, também como ajudante de cozinha, seguindo-se três anos, já na categoria de cozinheiro, no “Adélia Maria”, de José Maria Vilarinho, cujo comandante era o saudoso Capitão Francisco Marques com quem o Mestre Zé Vida sempre manteve uma relação muito cordial e próxima.
A vida no mar continuou, desta vez no navio “João Ferreira”, da Indústria Aveirense de Pesca, com mais quatro viagens, sendo que as três primeiras foram à linha e a última já como Arrastão, com condições muito melhores.
Seguiu-se o navio “Capitão João Vilarinho” e o “Cidade de Aveiro”, que foi campeão do Mundo ao transportar 60 000 quintais de bacalhau congelado e salgado, mas que se afundou na sequência de um incêndio na casa das máquinas, a dois dias de distância de Aveiro, decorria o ano de 1979, facto que o levou a mudar-se para a “Sofopel”, em que a pesca era feita com redes de emalhar.
Reformado desde 1986, o Mestre Zé Vida recorda a pesca do bacalhau e toda a sua epopeia nos mares frios da Gronelândia e da Terra Nova, frisando que sempre lutou pela igualdade entre os oficiais e os pescadores, tentando dar a todos por igual aquilo que sempre soube fazer melhor: os seus saborosos cozinhados, onde se incluem a
Feijoada de Chispe, Samos de Bacalhau Guisado, Bacalhau à Brás ou à Gomes de Sá, não esquecendo o pão, o Bolo-Rei e o Folar nas épocas festivas.»
Agenda “Viver em…” da CMI