Acabei de ler “Luz do Mundo”, o livro que contém o essencial de várias entrevistas concedidas pelo Papa Bento XVI ao jornalista Peter Seewald. Bento XVI foi o primeiro Papa com a coragem de se sentar para responder a perguntas feitas por um jornalista, abarcando, livremente, muitos e diversos temas da Igreja Católica e do planeta em que vivemos. O Papa, pelo que percebi, não fugiu a qualquer questão, por mais complexa que fosse, nem esteve com rodeios para manifestar a sua opinião, sem esconder as suas dúvidas. Talvez por isso, foi um crente, cidadão, teólogo, pensador, estudioso e próximo, humanamente falando, que se expôs com toda a humildade, mas ainda com toda a frontalidade.
Confesso que fui daqueles que, ao ouvir o anúncio da sua eleição, depois do fumo branco dizer ao mundo que já havia Papa, ficaram perplexos, porque outra coisa esperavam: Um Papa mais novo e com capacidade para imprimir um outro rosto à Igreja, sem se esquecer de prosseguir o espírito universalista e intimista selado por João Paulo II com toda a gente, crentes e não crentes.
O tempo foi passando e a imagem do «vigilante da fé», atento a tudo o que pudesse perturbar o essencial da fé católica, foi-se atenuando pelas suas posições orientadas para o diálogo em todas as frentes, numa sociedade conturbada e cada vez mais hostil às verdades evangélicas. E é já numa fase de plena aceitação do novo Papa que leio os seus livros, cartas, exortações, encíclicas e demais textos, os quais afugentaram alguns resquícios de dúvidas que eu tivesse a seu respeito. Veio agora “Luz do Mundo” que me encantou.
O que pensava e afirmara, o que acredita e defende, o que aceita e o que rejeita, as certezas que o alimentam e as dúvidas que tem, a Igreja em que viveu e a Igreja que espera para o futuro, de tudo um pouco fala Bento XVI a um jornalista que soube formular questões com critério e conhecimento.
O padre António Rego, jornalista com larga experiência em vários órgãos de comunicação social, disse numa crónica que Bento XVI «Não diz tudo o que pensa, mas dá a impressão que nada do que pensa fica por dizer. E deixa — outro recato — o espaço aberto a quem dele discorda em qualquer matéria. Com a coragem de dizer que não é infalível.»
Fernando Martins