Licínio Amador com uma futura leitora
Ilustração da capa
Estive ontem, 8 de Dezembro, no anfiteatro do Museu Marítimo de Ílhavo, no lançamento do livro “Contos da Terra dos Ílhavos”, de Licínio Amador. Foi, sem dúvida, um acontecimento cultural de relevo, que mobilizou muitos ilhavenses, e não só. O autor e o livro bem justificaram a participação de pessoas de todas as idades e níveis académicos.
Domingos Cardoso, que fez as honras da casa, sublinhou que a cultura é luz que ilumina a nossa civilização. E por se tratar de um acontecimento em Dia da Mãe, adiantou, com sentido oportuno, «que a cultura também é mãe».
Referindo-se ao livro, adiantou que o trabalho de Licínio Amador é uma homenagem aos nossos antepassados, acrescentando que a cultura tem muitas faces, muitas expressões, como se pôde apreciar nos fados de Coimbra, com cantor e músicos ilhavenses a emprestaram ao evento uma nota muito agradável, com o amor a sobressair.
Depois a velha mas sempre renovada história da “Lâmpada”, roubada, segundo a lenda, à vista de toda a gente, tema glosado num dos 12 contos que enchem aquele livro de Licínio Amador, que também é poeta premiado. Alunos e professores da Escola João Carlos Celestino Gomes mostraram-se à altura.
José Manuel Cachim, amigo de infância de Licínio, reconheceu, na apresentação da obra, que Ílhavo é, realmente, «uma terra com valor». Falou da força de vontade de que o autor foi um exemplo, do esforço que fez para concluir o curso superior, como voluntário, enquanto trabalhava na actividade comercial da família, e enalteceu a importância do Prefácio — Uma poética da imaginação — de Rita Marnoto, para melhor se compreender o contexto do texto, onde se salientam vultos da nossa história, que, conforme disse, «até parece que andaram por Ílhavo a falar com os nossos antepassados». José Manuel Cachim manifestou o desejo de que “Contos da Terra dos Ílhavos» seja «um desaforo, para ser lido abuzacados à lareira».
«Deus quer; o homem sonha; a obra nasce», no dizer certíssimo de Fernando Pessoa, deixou o presente e foi assumido por Licínio Amador no pretérito. A obra aí está para todos os seus amigos, e não só. «A partir de agora, o livro pertence aos leitores», garantiu. Com gente de Ílhavo, carregada das suas tradições e aventuras, que o autor tão bem soube retratar, usando ditos cantarolados, como só os ílhavos sabem dizer. E na hora da apresentação, lá vieram à baila os bilharacos e a chora, a galeota e as línguas de bacalhau, as mulheres de preto como viúvas de maridos ausentes nos mares gelados, a sociedade matriarcal em tempos próprios, a troca do v pelo b (baca e binho). Mais ainda: os inspiradores Camões, Almeida Garrett, Fernão Lopes e a História de Portugal, com tantas personagens fiéis aos exemplos do povo de Ílhavo.
Paulo Costa, vereador da Cultura da autarquia ilhavense, mostrou a sua satisfação pela casa cheia, que a obra justifica. Cada conto obrigou-o a ler o seguinte. Sem parar. Este livro de Licínio Amador tem de estar nas escolas, para que os jovens percebam melhor a história e a linguagem dos ílhavos. Apreciou a solidez da escrita e a capacidade de descrição do autor. Garantiu, para nosso orgulho, que os heróis de Ílhavo também participaram nas grandes viagens dos portugueses. Quem o duvida?
Fernando Martins