A OLIVEIRA
A
todos e cada um de vós
que espreitais este quintal
Caríssima/o:
a. “Verde foi meu nascimento
E de luto me vesti
Para dar a luz ao mundo
Mil tormentos padeci.”
Foi com esta adivinha e com as imagens dos livros de leitura das primeiras classes da escola primária que me familiarizei com a oliveira e a azeitona. Aliás esta era manjar e conduto para refeição “festiva”, mas só nesta altura soube que era à oliveira que se ia apanhar.
Lembrando-nos do empenho da Tia Albina que desejava uma oliveira junto do portão de entrada da casa, como sinal de Paz, houve mais do que uma tentativa da nossa parte mas as oliveiras não gostam da sombra das outras árvores e ficam tristes... A que o senhor Valentim ofereceu tarda em crescer!...
e. É possível que medrasse com dificuldade a oliveira, em algum quintal da Gafanha, e até teimasse mostrar algumas azeitonas (verdes e azedas) que para nós eram balas polidas para os nossos tiroteios, os marotos!
i. É uma árvore que raramente ultrapassa os dez metros de altura ... Porém, as raízes poderosas e compridas podem chegar a uma profundidade de seis metros, através do qual têm sempre a possibilidade de obter água para o seu desenvolvimento.
o. O azeite, quem o não sabe?, é óleo indispensável e insubstituível na culinária. Também possui propriedades diuréticas, laxantes e emolientes.
Não é hábito falarmos da arte do albitário mas hoje gostaria de vos dar uma dica que se poderá revelar muito útil nestes tempos de voltar às origens. É assim: quando um galináceo aparecia com gogo, a Tia Maria José sentava-o no colo, abria-lhe o bico e... aí vai disto, despejava uma colherada de azeite pelas goelas abaixo da ave que melhorava e, e mais tarde, (quem sabe se por virtude da qualidade do óleo...) dava uma rica canja.
u. Curiosidades:
1. A civilização que floresceu na Ilha de Creta até 1500 a.C., prosperou com o comércio do azeite que eles primeiro aprenderam a cultivar. Já os gregos, que possivelmente daí herdaram as técnicas de cultivo da oliveira, associavam esta árvore à força e à vida.
A oliveira é também citada na Bíblia em várias passagens, tanto a árvore como os seus produtos.
2. Quem há aí que desconheça a cena bíblica que ilustra a pomba de Noé com um ramo de oliveira no bico para lhe mostrar que o mundo revive?
3. E a sua longevidade?
Estima-se que algumas das oliveiras presentes em Israel nos dias actuais devam ter mais de 2500 anos.
Os exemplares mais antigos que se conhecem na Europa e possivelmente no mundo encontram-se em Portugal: uma oliveira no Algarve, perto da cidade de Tavira, tem mais de 2000 anos e julga-se que foram os fenícios que a teriam trazido da Mesopotâmia. As outras, vindas do Alqueva, remontam a 300 anos a.C.
4. Existem alcunhas individuais ligadas à oliveira e ao azeite como o Joaquim Azeiteiro, e ...noutra paragens, o José da Talha, a Adelaide Lentisca, o Jacinto Alcaparra, a Alice Galheteiro, etc. Alguns termos do glossário olivícola foram-se assumindo ao longo dos tempos na toponímia e, sobretudo, nos apelidos de inúmeras famílias: Caldeira, Capacho, Oliveira, Caroço, Cordovil, Madural, Vara, Verdeal, etc.
5. Como não podia deixar de ser, variados são os adágios ligados ao tema. Apenas um ou outro:
O azeite e a verdade vêm sempre à tona.
Azeite no chão, sinal de paixão.
Azeite, vinho e amigo, (prefere) o mais antigo.
Azeitona com pão alvo é comida de fidalgo.
O azeite é meio serralheiro.
O azeite quer-se bem medido e mal escorrido.
Deixa-te de grelos que é roubo de azeite.
São quatro as mordomas da Igreja: oliveira, videira, abelheira e trigueira.
Creio que fechamos muito bem o ano com a oliveira; quanto haveria para dizer ainda, que o serão é longo!...
Fazendo apelo à vossa fantasia e imaginação, deixo-vos junto da fogueira quentinha e parto do meu quintal ainda não sei bem para onde, mas os Amigos, esses, vão comigo.
BOM ANO!
Manuel