Há sinais de tempos novos
1.Iniciamos o Advento como escola da esperança e tempo para viver na serena expectativa do Natal.
Jesus vem: reza e acolhe. É este o lema que nos vai orientar ao longo desta caminhada de Advento – Natal. Este lema procura mobilizar quem espera e acredita no nascimento de Jesus a concretizar o nosso Plano diocesano de pastoral, nesta etapa do nosso viver como Igreja orante, lugar da esperança.
Encontramos este lema escrito no frontispício das nossas Igrejas e sabemo-lo sobretudo inscrito no coração de tantas famílias e pessoas.
2. Vivemos um tempo difícil em que falta pão em muitas mesas de famílias pobres. A crise financeira internacional e as dificuldades económicas das pessoas e das famílias, que nos são próximas, não são uma miragem nascida da imaginação de alguns. Há carências reais e escasseiam os bens elementares para muitos dos nossos concidadãos, desde as crianças aos idosos. A falta de emprego com que se debatem muitas famílias é uma das razões mais preocupantes do aumento das situações difíceis que vivemos.
Há também sinais de tempos novos que parecem estar a surgir e nos revelam que a iniciativa de muitas instituições e a criatividade de muitas pessoas superam frequentemente a ineficácia de tantas decisões públicas.
A título de exemplo entre muitos outros possíveis, vejamos como o Banco Alimentar contra a fome mobilizou nestes últimos dias milhares de voluntários e recolheu donativos mais abundantes do que em anos anteriores para serem distribuídos por tantos que precisam.
O Fundo Social Solidário, criado recentemente pela Conferência Episcopal Portuguesa, é disso testemunho exemplar, assim como outras iniciativas semelhantes das nossas comunidades cristãs, movimentos apostólicos e Igrejas diocesanas.
3. Todos sabemos que os celeiros da Igreja não são os armazéns das nossas instituições sociais (muitas vezes já vazios) mas sim o coração generoso dos cristãos que trabalham atentamente ao serviço dos mais pobres, seja nestas instituições, seja nos serviços de vizinhança solidária e de proximidade fraterna das comunidades cristãs, em que a caridade é sempre fecunda e imaginativa.
A oração de quem se dispõe espiritualmente para acolher Jesus, cuja vinda e nascimento o Advento prepara e o Natal celebra, educa-nos para acolhermos de igual modo e com a mesma verdade os nossos irmãos, onde o rosto de Deus se espelha e se reflecte.
É também com esse sentido que surge, a exemplo dos anos anteriores, mais uma vez por iniciativa da Cáritas Portuguesa e do Secretariado Nacional da Educação Cristã o gesto “Dez milhões de Estrelas”, como iniciativa que deseja mobilizar as crianças, os jovens, as famílias, as escolas e as comunidades. Pretende-se que através deste gesto pedagógico de uma luz acesa por cada um dos habitantes de Portugal possamos iluminar a vida de todos os nossos concidadãos e construir um mundo justo e fraterno, onde a paz esteja ao alcance de todos.
Destina-se, também, este gesto realizado em todas as dioceses de Portugal a ajudar as instituições que acolhem crianças sem família. Uma dessas instituições que a Cáritas Portuguesa se propõe ajudar é o Centro de Acolhimento e Emergência Infantil, da Cáritas Diocesana de Aveiro.
Sabemos que os momentos mais difíceis são muitas vezes ocasião de grandes oportunidades em que se consolidam valores essenciais do nosso viver como comunidade. Ninguém estranha, por isso, que seja maior nesta hora a generosidade de pessoas, conscientes da importância de uma vida sóbria e de um exercício permanente de partilha e de generosidade.
E para que o Natal seja celebração de um Deus que se nos dá no Seu Filho, o Advento deve ser vivido como um tempo propício para compreendermos que em Jesus Cristo todos nós somos filhos de Deus.
Neste mesmo espírito do Natal que se avizinha, somos chamados a partilhar com todos, sobretudo com os mais pobres e com os que mais sofrem, este amor e esta alegria de sermos irmãos, membros activos e interventivos desta Igreja orante, lugar da esperança.
+ António Francisco dos Santos,
Bispo de Aveiro