Por António Rego
Já nos cansamos de discursos, análises, críticas, explicações e promessas. Ainda não deslindamos por inteiro as causas visíveis e invisíveis, próximas e distantes de todo este desencanto que nos invade, espécie de Inverno sem sinais de vida. Nem sabemos bem onde estão os erros mais básicos nesta aritmética que não sabe multiplicar os bens e dividir os males.
Já percebemos que quase tudo nos pode acontecer.Com a humilhação de termos estado prestes a ser um país moderno, civilizado e desenvolvido. Tudo parece cair ao mesmo tempo. A pobreza já não se envergonha como dantes. Estala nos protestos expressos em todos os recantos. Cada vez é maior o número dos que se consideram desabrigados, sem capacidade para o sonho médio de há uns tempos atrás: uma casa condigna, um carro, televisor, electrodoméstico, computador, máquinas disto e daquilo, gelados e congelados em abundância…
Não longe daqui estará o problema. Quase tudo foi multiplicado luxuriosamente. Adquiriram-se hábitos, contraíram-se empréstimos, dívidas, vícios, estilos, padrões insustentáveis que a tão falada crise veio revelar. Enganámo-nos na medição da nossa estatura.
E por aqui andamos, atordoados, sem saber bem como e quando tudo isto vai acabar. E quem vai escapar deste vendaval sem ter de mudar de vida e experimentar uma austeridade dura e crua de renúncia a muitos teres e haveres porventura essenciais a uma existência de qualidade.
Independentemente da saída técnica da crise temos de reaprender a viver.Com a renúncia, a austeridade, a procura quotidiana do essencial e a renúncia ao supérfluo. E medir bem o lixo - o que se deita fora e o que se guarda - esse montão diário que é o pão do diabo mal amassado, fruto impuro do nosso esbanjamento. Tudo isto associado ao trabalho, que se não faz, ao tempo que se desperdiça, ao engano que pode constituir ter sobre a mesa o pão sem suor, as fortunas sem mérito, as contas engordadas pelo jogo de mercado e pela sorte que gera fortunas. E com os mais frágeis a perderem continuamente no encalço dos bens.
Este Advento pode significar uma peregrinação interior à comunidade que somos. Para nos acender a esperança mesmo quando todos os caminhos parecem bloqueados. Que seria dos trinta homens da mina de S. José sem a Esperança?