quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Democracia em perigo e ensino privado ameaçado?

Por António Marcelino

Passados quase quarenta anos da Revolução de Abril, ultrapassados os tempos do PREC, uma Constituição que oficializa a democracia participativa, o país integrado na União Europeia, as universidades a formarem novas gerações de licenciados, mestres e doutores, uma coexistência dos partidos políticos normal num país latino, as relações entre o Estado e as instituições civis normalizadas, o povo e os cidadãos com direito a opinar e participar livremente, ouve-se, agora, a torto e a direito, gente séria e sensata a perguntar-se se ainda estamos num país democrático ou a ser empurrados para uma empobrecedora e injusta estatização. Isto acontece sempre que não está bem clarificada e assumida a cultura democrática e o governo se encosta a políticos e doutores, mais presos a ideologias e interesses do que à promoção do bem comum, do bem dos indivíduos e do livro exercício das instituições fundamentais, dos Direitos Humanos e da própria Constituição, quando é lida e interpretada sem preconceitos. 

As descriminações multiplicam-se, camufladas ou às claras, no campo do trabalho, no exercício da justiça, no acesso a empregos e cargos públicos, nos cuidados de saúde, nos negócios autárquicos, na distribuição dos dinheiros públicos, na educação e no ensino privado. Decisões arbitrárias recentes do Governo descriminam, mais uma vez de modo grave, as escolas privadas com contrato de associação, espalhadas por todo o país, com projecto educativo próprio e orientação própria, que ministram ensino gratuito a todos o seus alunos. E não faltam apoios a esta descriminação por gente do sistema.
Vital Moreira, político com um percurso político bem conhecido – deputado pelo PCP de 1976 a 1983, pelo PS de 1995 a 1999, e agora no Parlamento Europeu pelo PS – foi sempre um visceral opositor das escolas privadas, e escreveu em 4 de Novembro no seu blogue: “Só foi pena ter sido necessário uma crise para pôr fim à captura do Estado pelo poderoso lobby do ensino privado”. Assim aprecia e apadrinha as medidas discricionárias, antidemocráticas e eminentemente injustas do governo socialista.
Vital Moreira é um bairradino do concelho da Anadia, nascido em 1944. 
Por esses tempos e nos seguintes, nos concelhos de Anadia, Oliveira do Bairro, Mealhada e Cantanhede, não havia escolas oficiais para além do ensino básico. Assim, na maior parte do país interior, fora das cidades capitais do distrito, foram, então, as escolas nascidas da iniciativa privada que permitiram que os filhos de gente modesta pudessem estudar e ir até à universidade. Não sei se Vital Moreira foi ou não um destes alunos. Ali ao lado da sua terra, Frei Gil Alferes, também ele um bairradino, preocupado com o evoluir do seu povo, padre por inteiro dedicado aos pobres, fundou o Instituto de Promoção Social da Bairrada, uma escola por onde vêm passando milhares de alunos, ao tempo filhos de famílias de poucos rendimentos. Esta benemerência ao país, que enraizou com muitas dificuldades e muitos êxitos, só foi perturbada pela ignorância facciosa dos iconoclastas do PREC. 
Vital Moreira sabe bem que não existe nem nunca existiu o lobby do ensino privado, muito menos formado por escolas, que, durante décadas, nunca contaram com qualquer apoio financeiro do Estado, mas viviam e agiam com o saber de voluntários generosos como o médico, o padre, o professor primário e outros cidadãos locais mais preparados. Por que teima ele e a gente responsável da FENPROF em continuar a falar de um ensino de elite e do seu peso injusto no erário público? Não é por ignorância, mas por paixão estatizante. 
O contrato de associação veio bem mais tarde e só tem poupado ao Estado dinheiro e problemas. Seria bom saber o que custa um aluno da escola privada e um aluno da escola estatal do mesmo grau do ensino. O primeiro custa ao Estado pouco mais de metade do que custa o segundo. Se agora a revisão do contrato é exigida pela crise, nunca se pode fazer unilateralmente. Dialogue-se e ouçam-se as associações representativas do ensino privado, nunca à margem destas. 
Não foram as escolas privadas que levaram o país à crise, mas não se recusarão a ajudar a superá-la, se todos se empenharem por igual. O ensino privado não tem um lugar supletivo no país. Ele é necessário para um confronto estimulante, é um serviço público com lugar de pleno direito num país democrático. Vital Moreira bem o sabe, ou deve saber, mas nas suas tergiversações políticas, não ousou quebrar as amarras da ideologia que o sustenta e ao seu público.

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue