O NOSSO JUÍZO FINAL
António Rego
O facto é que para a nossa experiência de corpo, tempo e afecto, a morte tem sempre o tom de corte, fim, decomposição, repulsa, medo
A festa de Halloween não é popular entre nós nem importa torná-la apenas por motivos de contestação. Vem dos Celtas, foi levada pelos colonos para a América e celebra-se numa mistura de mistério, fantasma, bruxaria e jogo infantil, exactamente na véspera de todos os santos. O seu próprio nome tem a ver com os santos. Foram as crianças que a tornaram mais popular não apenas pelos medos e fantasias de que se revestem nestes dias, mas porque é uma forma de se relacionarem com os adultos, espécie de pão por Deus, em estilo mais americano. Por cá vai-se fazendo festa de salão com os medos e surpresas de trajos exóticos. Ou porque a imaginação já não é muita para quebrar as rotinas.
Não longe deste todo está a morte com todas as imagens que despoleta, nos compostos de medo e esperança que também envolve os crentes e os cristãos. Nem se trata de duvidar do além ou de não ter esperança na ressurreição. O facto é que para a nossa experiência de corpo, tempo e afecto, a morte tem sempre o tom de corte, fim, decomposição, repulsa, medo. Se aqui pararmos. Porque, colocando-nos diante de Deus, um misto de esperança e receio nos invade: estamos bem, porque estamos nas mãos de Deus, e na sua mão direita “finalmente repousa o nosso coração”.Mas há contas a ajustar que nos deixam alguns temores: a balança da justiça onde seremos colocados para pesar o bem e o mal, o feito e o por fazer, o que fomos e o que podíamos ter sido, o que nos resta como dívida fruto do esbanjamento dos dons que Deus nos concedeu. Tudo isto é sério e verdadeiro. Jesus contou muitas histórias que descrevem a solenidade deste momento. Mas não deixou de nos dizer que a medida do olhar de Deus não é a nossa. E que a leitura última do Decálogo Lhe pertence e não aos legisladores deste mundo. E pelo que nos revelou do seu Filho dá-nos uma paz imensa a sua misericórdia incomensurável. Porque se Ele nos julgar “segundo as nossas faltas, quem se poderá salvar?”.
Em Novembro vivemos mais intensamente este mistério. E compreendemos que a nossa oração pelos que partiram apazigua esse juízo que em boa verdade todos tememos.