O MARMELEIRO
A
Maria José Costeira e
José Vitorino Magalhães
Caríssima/o:
a. Marmeleiros há muitos no quintal mas, quando chega a altura da colheita, a maioria dos marmelos apresenta-se com ar de quem não quer ir para a panela ou para o forno: mazelas, picadas, podridão. Verdade que, adeptos da cultura biológica, não nos espantamos; porém, as moscas e outros agentes patogénicos podiam usar de um pouco mais de parcimónia... Em todo o caso, os que se aproveitam ainda dão para assar e para a tradicional marmelada (muito trabalha a colher de pau!...)
e. Também pela nossa Gafanha eram frequentes os troncos torcidos dos marmeleiros... Raramente nossas mães nos presenteavam com marmelos assados e a marmelada exigia açúcar que não abundava... Comê-los crus era um martírio: tentávamos por um lado e por outro, mais amarelo ou mais verde, mas não era convidativo e, o marmelo mordido e rejeitado, era atirado para o poço da Cambeia.
i. Este fruto não se come cru, como se concluiu pelo que se diz acima. É consumido cozido, em compotas, marmelada e geleia. O marmelo cozido é um fruto seguro contra as diarreias infantis.
As flores são comestíveis e podem utilizar-se em saladas e na confecção e decoração de diversos pratos.
Do marmeleiro extrai-se a vara de marmelo, instrumento de punição muito usado no passado e ... ainda em uso em algumas localidades.
o. No marmelo podem encontrar-se os seguintes constituintes químicos: açúcares, ácido tartárico, ácido tânico, amigdalina, mucilagem, pectina, propectina, proteína, sais minerais (fósforo, cálcio, ferro), taninos, vitamina C e vitaminas do complexo A e B.
É indicado para queimaduras, inflamação de garganta, diarreias, cólicas, convalescença, edema traumático, nevralgia facial, fissura na pele, insuficiência hepática e falta de apetite, etc..
Dá firmeza à musculatura intestinal.
O marmelo não deve ser consumido por pessoas que sofrem de obstipação.
u. Como curiosidade fica apenas a lenda segundo a versão de Eduardo Sequeira:
“A LENDA DO MARMELLEIRO.
O marmelleiro foi na antiguidade consagrado a Venus, e o seu fructo considerado como um penhor de amor.
Outr'ora os noivos, segundo Plutarco, comiam marmellos, para lhes tornar agradavel a sua primeira entrevista e segundo outros para obter filhos varões. Porém a verdadeira consagração do marmelleiro e do marmello a Venus, isto é ao amor, vem de um facto astucioso que a antiguidade altamente celebrou.
Akontius apaixonou-se doidamente pela formosa Cydippe de Delos. Não se atrevendo a fazer-lhe uma declaração de amor, colocou no templo de Diana, junto do local onde Cydippe costumava fazer as suas orações á deusa, um marmello com a seguinte inscripção: Pela divindade de Diana, juro que serei esposa de Akontius.
A rapariga entrando no templo e vendo o fructo apanhou-o e leu em voz alta a inscripção fazendo por isso, inconscientemente o juramento sagrado de esposar Akontios, o que religiosamente cumpriu.”
Manuel