segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Moliceiro, o amante da Ria


O moliceiro, o amante da ria


O moliceiro, o amante da ria,
Flutua leve, silencioso,
Rompendo a madrugada,
Rasgando o manto misterioso
Da neblina que os veste;
E com a ajuda do sol nascente
Aparece imponente à luz do dia.


Com a sua proa pintada,
A sua vela içada
Prenhe de vento, de maresia
Vai lavrando
As salsas águas da ria.
O moliceiro, o amante da ria,
Carrega no seu ventre
O húmus, a semente,
Que fecunda a terra
Terra que abraça a ria,
Rotunda de seiva, de alegria.


Corta as águas, ora calmo, gracioso,
Porque Eolo, no Olimpo, está alegre
Ora quase naufraga
Porque o deus seta zangado, furioso.


E ria acima, ria abaixo
Ao som da concertina,
Espalha a cor, a alegria,
Ao levar os mancebos e as moçoilas,
A S. Paio em dia de romaria.


O moliceiro, o amante da ria,
Abraça-a nos seus braços esverdeados,
Trocando ósculos entusiasmados,
Que são as marolas da ria
Marulhando no casco do moliceiro.


Assim desliza o moliceiro
Pelas águas esverdeadas da ria
Ora lisas, ora ondeantes
Trocando juras de amor eterno
O moliceiro e a sua amante.

Licínio Ferreira Amador

NOTA: 1.º Prémio de Poesia livre dos VII Jogos Florais da Câmara Municipal da Murtosa em 25/03/2006. Tema: O Moliceiro

1 comentário:

  1. É óptimo que imagens, livros, registos escritos e outros vão retendo e divulgando a imagem do verdadeiro moliceiro, o moliceiro de bom cerne, barco de trabalho e de regata de romarias. Parabéns ao autor.

    ResponderEliminar