Terminou há poucas horas mais uma peregrinação ao Santuário de Fátima, em que participaram muitos milhares de crentes e devotos de Nossa Senhora. Desde as aparições, em 1917, que Fátima se tornou um fenómeno religioso e sociológico, com muitos estudos a tentarem justificá-lo. Uns assentando a sua análise no divino e outros tentando negar essa vertente. Porém, uma coisa é certa: haverá poucos portugueses que nunca lá foram ou se fixaram na indiferença perante a influência que Fátima exerce nos católicos e até em crentes de outras religiões.
Esta peregrinação, voltada para os emigrantes, foi mais uma manifestação de fé e da certeza que muitos compatriotas alimentam, ano após ano, da ajuda de Nossa Senhora nas horas difíceis que longe da pátria têm de enfrentar.
Promessas traduzidas em velas, em orações e cânticos, em sofrimento de joelhos até à Capelinha das Aparições, em esmolas oferecidas, em agradecimentos íntimos ou cantados, de tudo um pouco, ou muito, pude ver nas reportagens feitas a partir do Santuário.
Embora me custe aceitar os sacrifícios de quem se arrasta, de joelhos, até à Capelinha, devo confessar que respeito muito quem o faz, sem complexos e sem receios. A fé em Nossa Senhora de Fátima, que não se discute, já que ela é dom de Deus, pessoalmente aceite e seguida, não pode ser criticada e muito menos atribuída à falta de cultura religiosa. Tenho visto muito boa gente, dos mais variados quadrantes e dos mais diversos estratos sociais e académicos, em oração fervorosa na Capelinha.
Um dia, Bento Domingues disse, numa conferência, que D. Manuel Vieira Pinto, Bispo de Nampula, não se conteve com o sofrimento de uma senhora do povo. Dirigindo-se à senhora, sugeriu-lhe que não se arrastasse com os joelhos sangrando, porque ele, Bispo, até lhe podia substituir a promessa por outra mais simples. A senhora, que não gostou nada da sugestão de D. Manuel, replicou de imediato:
— Olhe lá, eu prometi alguma coisa a vossemecê?
FM