terça-feira, 6 de julho de 2010

Rua Padre Américo na Gafanha da Nazaré

A Rua Padre Américo fica na Marinha Velha. Começa na rua Júlio Dinis e estende-se até à Mata da Gafanha, depois de atravessar várias ruas. Uma delas, a maior e mais antiga, é a São Francisco Xavier, que nos liga à Gafanha da Encarnação.
A Rua Padre Américo é a que serve a Escola da Marinha Velha e está ladeada de casas, umas antigas e outras mais modernas. Pelo casario, qualquer pessoa minimamente culta fica a poder comparar o nível de vida das pessoas de agora com o das de há meio século. É um belo exercício de imaginação e de história, pelas conclusões que podem ser tiradas.

O mais importante, contudo, é reflectir sobre a personalidade que foi homenageada pelos nossos autarcas, em devido tempo: O Padre Américo, também conhecido por “Pai Américo”.
Julgo que ninguém desconhece este Padre. Ordenado tardiamente, porque a vocação para o serviço de Deus e dos irmãos o levou para o seminário já com bonita idade, de 36 anos, o Padre Américo tornou-se famoso pelo exemplo de amor aos pobres que deu a todos os portugueses. Começou a olhar para os pobres de Coimbra, em cujo seminário estudou e onde foi ordenado, com 41 anos, e logo se deparou com os mais pobres dos pobres: crianças órfãs e abandonadas, crianças sem família e perdidas. E daí fundou a “Obra da Rua”, consubstanciada em três vectores: Casa do Gaiato, Património dos Pobres e Calvário. Na Casa do Gaiato acolheu rapazes da rua; no Património dos Pobres promoveu a construção de casas para famílias carenciadas; no Calvário recebeu doentes incuráveis e em fase terminal.
A sua pedagogia ficou famosa. Baseava-se na liberdade (portas sempre abertas) e na responsabilidade, mas ainda no trabalho, que considerava essencial a uma educação para o futuro.
O Padre Américo passou a vida a alertar pessoas, empresa e autoridades para a necessidade de todos responderem, permanentemente, aos enormes desafios de cuidarem dos seus pobres. «Cada freguesia cuide dos seus pobres» — sugeriu certa vez.
Passei um dia pelo Calvário e fiquei abalado. Empregados e voluntários cuidavam de doentes no fim da vida, com males que não perdoam: uns sem posses e rejeitados pelos hospitais; outros abandonados pelas famílias, outros sem eira nem beira. A disponibilidade e o carinho daqueles profissionais e voluntários impressionaram-me.
Ao lado do Calvário funcionava uma escola primária e mais adiante, tudo na mesma quinta, crianças brincavam enquanto outras trabalhavam ou ajudavam quem trabalhava, no pomar, na horta e no refeitório. Era, realmente, uma escola para a vida.
Morreu num desastre de viação no dia 16 de Julho de 1956.

Fernando Martins

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