Lugar dos Afectos
António Marcelino
No vazio de um longo Inverno que se prolonga no Verão, entre egoísmos e indiferenças, surgem exemplos eloquentes de voluntariado social e de solidariedade humana, nascidos do coração e ditados pelo amor. Há sempre gente que sabe que a vida de quem nada faz pelos outros, não merece chamar-se vida.
Numa manhã de Domingo, depararam-se em catadupa, sobre mim, três oásis, feitos generosidade, onde os outros, os mais feridos da vida, têm lugar de honra.
A Terra dos Sonhos é uma instituição, nascida no norte do distrito, que ajuda a ver o positivo das coisas e das pessoas. Fá-lo com acções que traduzem respeito e vida, porque de palavras fáceis nada se pode esperar.
A Peregrinação dos Frágeis foi iniciativa surgida na cidade do Porto. Juntou milhares de pessoas doentes e com deficiências graves a quem se vai ensinando todos os dias que ninguém é inútil, ninguém pode dar por terminado o seu crescimento pessoal e as suas possibilidades. A vontade e a fé deitam abaixo todos os muros mutiladores da vida.
O Lugar dos Afectos, em Eixo, aqui ao lado de Aveiro, é o saber, a intuição e a arte postos ao serviço de crianças, jovens e adultos que ali acorrem de todo o lado. A vidas empurradas pelas ilusões que o mundo oferece, há que dizer com beleza a riqueza dos afectos que traduzem amor e dão sentido a quem quer ser, crescer e viver, de modo integral, com equilíbrio e alegria, liberdade e paz.
Agora, a página negra que não devia existir nestas coisas. Quando se trata de instituições, os poderes públicos vão, vêem e até dão parabéns. Mas não ajudam, nem estimulam. Muito menos agora que a crise justifica tudo. Do mesmo modo, quem tem dinheiro mais pensa em aumentá-lo do que em distribui-lo, mais atende a prazos do que a gestos de bem-fazer.
E os voluntários benévolos, sonhadores incorrigíveis, metem-se nestas andanças, dão a vida e os bens, o tempo e a saúde, o saber e o trabalho. Um dia mais tarde, talvez os condecorem. Agora, crucificam-nos.
Fonte: Correio do Vouga