Dos fracos não reza a história!
M.ª Donzília Almeida
Desde muito pequena que ouvia da boca do meu progenitor, em tom sentencioso, a frase lapidar: “Dos fracos não reza a história”. Ficou-me gravada na memória e embora a minha tenra idade não me permitisse o alcance do aforismo, já deixava antever algum ensinamento, para o futuro.
Na expectativa que a sua prole singrasse na vida, percorrendo caminhos conducentes ao sucesso, lá ia instigando no nosso espírito, a pedagogia dos provérbios. Os ensinamentos, que transmitem, sintetizam a sabedoria popular que se vai transmitindo de geração em geração.
Mas, como em tudo na vida, nem sempre as coisas são tão lineares quanto o peso da tradição nos faria crer.
Há tempos, numa deambulação pelo pomar, pude constatar o contrário do que o aforismo, popular, apregoa. Numa observação atenta das várias árvores de fruto que se perfilam em linha recta, por entre a copa abundante de quase todas, pude observar uma coisa insólita: um pessegueiro alquebrado ao peso dos anos e das intempéries, da vida, exibia o mesmo aspecto dum velho vergado e apoiado na sua bengala. Poucos anos de vida se auguram para esta árvore definhada e quase seca.
No entanto, o que é notável é que mesmo com poucas forças, lá estava com o único ramo que lhe restava, a exibir dois pêssegos rosados, de tamanho normal. Fiquei verdadeiramente pasmada como a natureza nos surpreende com a sua força.
Daqui, deste aparente fenómeno, podemos estabelecer um paralelismo com a condição humana e verificar, quantas vezes os ditos ou considerados fracos, nos surpreendem com as suas façanhas! Há uma força interior que muitas vezes nos faz ultrapassar as nossas fraquezas ou handicaps e nos move, rumo ao sucesso.
Agora, quando passeio pelo quintal e observo o pessegueiro derreado, penso, a plenos pulmões: Dos fracos também reza a história!
19.07.10