Ontem, quando à noite me dirigia para a inauguração do Centro Cultural, soube do falecimento do senhor Marcos Cirino, que tive o gosto, há meses, de entrevistar para o Timoneiro. E não pude deixar de pensar quanto ele apreciaria estar nesta festa, como amante da sua e nossa terra que sempre foi.
Embora nem sempre concordasse com a forma como enfrentava as injustiças contra a Gafanha da Nazaré, tenho de reconhecer que a paixão que nutria pela nossa terra e suas gentes era sinal evidente de um amor acrisolado.
Na entrevista que me concedeu, quiçá a última da sua vida, teve a oportunidade de falar, com entusiasmo, daquilo de que gostava: Gafanha da Nazaré, sua história, seus usos e costumes, muitos dos quais caíram em desuso, mas sobretudo dos barcos da ria, de caravelas dos descobrimentos, de pessoas. A sua casa, qual museu lagunar, estava cheia de modelos por si executados e que haviam sido expostos em diversas localidades. Ostentava um natural orgulho não disfarçado, face aos elogios legítimos que eu lhe dirigia. A falar de barcos estava nas suas sete quintas.
Se é verdade que dissertar sobre o seu mundo, de barcos, velas, remos, salinas e gentes, o entusiasmava, logo a seguir saltava para as injustiças, bem registadas na sua alma e provenientes de quem não compreendia a importância da Gafanha da Nazaré no contexto regional e nacional.
Frequentemente me alertava para a premência de se lutar pelo que considerava fundamental para o nosso progresso. Mas não o fazia de ânimo leve, pois que me exibia de imediato a documentação e legislação em que sustentava as suas teses. Que ao menos o seu amor à Gafanha da Nazaré deixe seguidores.
Que Deus o receba na sua glória.
Fernando Martins