A PALMEIRA
A*
D. Joaninha
Zé da Branca e Adelaide
Rúben
Humberto Rocha
Caríssima/o:
Conheces a palmeira.
a. Pois bem, ela ali está altaneira e cheia de vida nos seus oitenta e cinco anos de vida no nosso Quintal: segundo a tradição familiar foi plantada no longínquo ano de 1925, Ano Santo, por meu Sogro, Domingos Costeira. Para ser mais exacto, plantou duas, mas o espaço era pouco para ambas e foi sacrificada a que estava mais próxima da casa e mais apertada.
Vê-se de longe e é uma referência.
Dizer-te que rolas, pardais, ratos e outra bicharada ali nidificam não será novidade; também o não será vermos uma hera subir por ela, ou apreciar uma alegria do lar que encontrou vaso em certa concavidade.
e. Nesta época do ano em que se festejam os Reis na nossa região não podíamos buscar outra planta. Quem está aí que não se recorde do Palácio do Rei Herodes na loja do ti Zé da Branca? Durante anos e anos ali estacionava o Cortejo, a Estrela sumia-se, os Reis Magos estancavam os cavalos e encontravam-se com o malvado do Rei Herodes. E o espertalhão do Cingo a lamber a rolha da garrafa de Porto!...
Pois é, à sua sombra, nos juntávamos em grandes confidências e em planos ousados e revolucionários que tinham o condão de unir moradores de cantos diferentes numa mesma Zona!
Mas ainda podemos acrescentar: ali montava o seu teatro de robertos o ti Armando Ferraz ou iniciava a ronda de Entrudo com o seu Rancho!
Certamente que ninguém se terá lembrado de propor que esta árvore seja considerada de interesse regional; estás a tempo de o fazer e como tal que passe a ser protegida, antes que lhe aconteça como às árvores do Tio Vicente. (Não é preciso ir tão longe; basta pensar no que ia acontecendo ali no Jardim Oudinot! Prevenir, pois, enquanto é tempo.)
i. Lembro-me de quando em vez “rasparmos” as tâmaras que nos diziam serem comestíveis!
Uma utilidade de palmeira que se preze é a oferta das suas palmas para a festa dos Ramos. Ora a cabeça desta está tão lá no cimo que me não lembro de tal serventia!
Também destas nunca vimos ou cheirámos o óleo de palma.
o. Aplicações para remédios também as não conheço, mas que a sua sombra terá curado muita doença, disso não duvidamos. Era a grande escola do riso onde a rapaziada se expandia e aprendia com os mais velhos a enfrentar os desafios que em breve a vida lhes colocaria no caminho...
u. A palmeira tem para todos nós um grande poder simbólico e ainda o de nos transportar para situações que nos confrontam connosco e com a nossa Fé (basta recordar a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém); nada melhor do que ouvirmos uma das muitas lendas que no-la recordam:
«(Lendas são narrações piedosas que se propagavam na Idade Média, e cuja veracidade não se baseia em documentos autênticos. Sem aprovar tais narrações, a Igreja não as rejeita de modo absoluto e deixa plena liberdade para serem aproveitadas como histórias edificantes.)
Entre as lendas relativas à fuga para o Egito, as mais conhecidas são a da Palmeira e a do Bom Ladrão.
A lenda da Palmeira
Um dia a Sagrada Família, fatigada pela longa viagem, parou à sombra de uma palmeira a fim de descansar um pouco. Apertada pela fome, e notando os cocos dourados que pendiam da palmeira, Maria sentiu que não estavam ao alcance da sua mão. Jesus viu o desejo de sua mãe e comoveu-se. Dirigindo-se à palmeira, disse: "Curva-te, bela palmeira, e alimenta minha terna mãe com tuas frutas". A estas palavras, a árvore reconheceu a voz do seu Criador e inclinou-se, e Maria colheu tantas frutas quantas desejava.
Após nova ordem do divino Menino a palmeira se ergueu de novo, e muito altaneira. Mas tão bela ação não podia ficar sem recompensa. Jesus continuou: "De agora em diante, quero que a palma seja o símbolo da vitória e brilhe eternamente nas mãos de todos aqueles que triunfarem sobre a terra, nos santos combates da virtude".
Em seguida veio um anjo, que cortou uma folha da generosa palmeira e a levou logo para o Céu.
Por um novo prodígio deste Menino divino, uma fonte brotou ao pé da palmeira, a fim de refrescar os viajantes.»
Renovando o desejo de Bom Ano, fica também o voto de um esplendoroso Dia de Reis.
Manuel
*Os quatro primeiros estão ligados à Palmeira do meu canto; o último ficará para a nossa memória como o principal responsável pela recuperação do Jardim Oudinot.