ESTOU BAPTIZADO. SOU CRISTÃO?
A pergunta parece redundante. De facto, quem é baptizado entra num estilo de vida tipicamente cristão. Pode assemelhar-se a quem entra na Universidade para ser bom aluno. O normal será viver de acordo com o seu novo estatuto, não sendo suficiente matricular-se ou simplesmente dizer-se universitário.
A festa do baptismo de Jesus – que se consuma na manhã de Páscoa com a ressurreição - faz-nos ver a novidade do ser cristão. Não basta o baptismo da água, à maneira de João Baptista, apesar de muito positivo. Não basta manter um costume, apesar da sua relação familiar e social. Não basta o rito religioso, apesar da marca que lhe está atribuída: ser expressão de uma atitude crente.
A vida, nos anos da sua duração, traz-nos muitos “baptismos de água” que revelam o grau da nossa humanidade: conselhos de sabedoria, atitudes de fortaleza e honradez, gestos de partilha e generosidade, lições de economia solidária, guias de entretenimento alegre e positivo, acções de formação ética e profissional, compromissos em prol da justiça e da paz.
À água é preciso unir o Espírito Santo – afirma João Baptista aos que tinham outras expectativas; Espírito que se manifesta de vários modos e vai moldando a vida de quem o acolhe com abertura e simplicidade de coração.
São estes modos que configuram o cristão que há em nós e vai crescendo com a graça de Deus, o esforço pessoal e a ajuda dos outros, especialmente da família, do grupo apostólico, da comunidade cristã.
Ser cristão é, não apenas estar baptizado, mas viver e desenvolver os dons recebidos na celebração e patenteados na actuação diária: reconhecer que a nossa comum humanidade se alicerça na filiação divina – em Jesus Cristo, somos constituídos filhos de Deus; sintonizar o agir da consciência e as preferências do coração pelo amor que vem de Deus e nos anima a ser coerentes; assumir os desafios da mudança em curso e, com espírito sábio, interpretar o sentido que comportam e o grau de humanização que manifestam; colocar todo o esforço ao serviço do bem comum – expressão secular do projecto de felicidade que Deus nos oferece -, vencendo a indiferença e a hipocrisia, os grandes males da nossa época.
Ser cristão é fazer a experiência diária, alegre e feliz, de ouvir a voz da consciência que, em nome de Deus, vai segredando: Estou contigo, em ti me revejo e confio, és o meu encanto. Sem medo, comunica esta alegre notícia por toda a parte.
Georgino Rocha