Dubai
Os pés da torre Califa
1. Sabe-se do desejo humano da altitude. Este facto, despertado na antiguidade a partir da observação das aves do céu, na época actual projecta-se até à capacidade de colocar alta tecnologia nos ares, vencendo barreira(s) do som numa contínua busca de superação. Estando provado que quase não há impossíveis em termos de elaborações tecnológicas a verdade é que diante da poderosa força da natureza, tudo pode ficar tão pequeno e tão limitado. Também é certo que muitos dos grandes avanços no conhecimento científico e técnico foram conseguidos através de grandes riscos e mesmo grandes acidentes. Talvez o pior de tudo seja, nestes domínios, a afirmação exacerbada da autonomia humana, como se o homem inventasse o seu novo “deus” e vivesse a ilusão desse absoluto imbatível.
2. Poder-se-ão apresentar, nesta matéria e a simples título de exemplo, alguns momentos como o caso do imbatível (mas submerso) Titanic em 1912, a clonada (mas já adulta) ovelha Doly em 1996, o famoso e insuperável (mas já encostado) Concorde, ou ainda o novo super acelerador de partículas CERN que, indo desvendar em 2008 o mistério das origens da vida, no momento do arranque não aguentou a pressão dos olhares do mundo! Não faltam exemplos em que no arriscar e na hiper-afirmação ilusória do valor absoluto do próprio conhecimento humano, “depois” vem a devida maturação e justa correcção do que se pensava ser a última novidade insuperável. Afinal, esta dinâmica dialéctica é uma marca dessa aspiração às alturas, mas será essencial que, na base de todos os diálogos, os pés estejam na terra!
3. O Dubai – um oásis fora do mundo! – vive uma impressionante crise financeira. Neste dia 4 de Janeiro inaugurou a torre mais alta do mundo. No contraste, poder-se-á dizer que mostra tanta altitude (828 metros) quanta desigualdade das gentes que já compraram o seu espaço dourado nessa torre Califa em relação à pobre multidão global... Se altitude é sinal de poder ele aí está; mas os pés, embora afogados em petróleo, parecem bem mais de barro… Ou não será?!