Uma vida já um pouco longa tem sempre muitas histórias. Nem todas, porém, vêem a luz dos nossos mundos, porque, entretanto, outras mais recentes se tornam mais presentes.
Quando abordei aqui, há dias, as celebrações, durante este ano, do centenário da República Portuguesa, falei dos ideais republicanos, mas não omiti as perseguições que na altura se sucederam aos que ousaram pensar diferente.
O Ângelo Ribau veio com um comentário oportuno que reza assim e ao qual respondi que conhecia muito bem a história, se calhar contada por ele:
Amigo Fernando:
Às vezes vale a pena dar-te um "toque"...
Já agora mais uma achega, que talvez a desconheças. Eram tantos os ataques à Igreja e seus membros, que alguns para não serem incomodados, implantavam nos seus telhados, bustos com o símbolo da república. Já reparaste em dois desses bustos que estão no telhado da casa que foi do nosso Prof. Ribau? (Manuel Joaquim Ribau). Foram lá postos com esse fim. Como sabes, para ser padre só lhe faltavam as "Ordens de missa". Daí a perseguição de que começou a ser alvo. Colocados os bustos, não voltou a ser incomodado...
Esta história foi-me contada pelo próprio, uma tarde em que foi à nossa casa buscar um bocado de "bôla" de que gostava muito. E adivinhava sempre quando a minha mãe cozia... A bôla quente era melhor, dizia ele. Messe dia estava bem disposto, e eu que andava com ela ferrada, fiz-lhe a pergunta sobre os bustos.
E a resposta aí está...
Ângelo Ribau
Eu conhecia realmente a história há muitos anos, mas estava sentada num canto da memória, à espera de um "toque". Obrigado, meu caro.
Quem sabe mais histórias dessas?
Um dia destes fui tirar o retrato ao busto feminino da República Portuguesa. Um amigo, ao ver-me a olhar para o telhado, quis saber o que é que eu estava a mirar. Perguntei-lhe se sabia que bustos eram aqueles, que ali estavam ao seu lado há tanto tempo. Não sabia, nem fazia a menor ideia. Adiantou que seriam decorações dos telhados, muito habituais há anos. Expliquei-lhe. Ficou admiradíssimo. Aqui ficam os retratos para os meus amigos apreciarem...
Fernando Martins