domingo, 10 de janeiro de 2010

Centenário da República




Ética Republicana

Com as programadas celebrações da República Portuguesa, que envolvem, para já, cerca de 500 iniciativas, abrangendo os mais diversos campos, fala-se muito de ética e de ideais republicanos dos que, em Lisboa, em 1910, substituíram a Monarquia pela República.
Na minha adolescência li um livro, intitulado Proscritos, de Luís Gonzaga de Azevedo, que me deu uma triste imagem dessa ética, mais tarde corroborada por historiadores cultores da verdade histórica. Contava, com fotos ilustrativas, as perseguições que os republicanos protagonizaram, junto da Igreja católica, em especial do clero e da Companhia de Jesus, bem como de todos os que, mesmo republicanos, discordavam do pensamento dos vencedores e dos que ocupavam os cargos de liderança.
Mais tarde, ao ler a história da primeira república, fiquei admirado com a tirania e o caos em que caiu o País, abrindo as portas à segunda república, que nos deu quase meio século de ditadura.
Afinal, a República, que durante anos e anos muitos portugueses ignoraram, nada tinha de democracia e de fraternidade, muito menos de liberdade e de igualdade, como proclamavam os arautos do novo regime, que pescaram na Revolução Francesa os propósitos nobres que estariam na base de uma sociedade nova e mais justa.
Historiadores actuais, Vasco Pulido Valente e Rui Ramos, por exemplo, explicam bem o que foram esses tempos, de perseguições, assassínios, falta de liberdade, censura, manipulação de eleições, organização de bandos criminosos e outras tropelias indignas de gente civilizada. Aos jesuítas chegaram a medir a cabeça, ao jeito nazi.
É óbvio que tudo já lá vai e que hoje o importante é olhar o futuro, na certeza de que melhores dias virão, nesta terceira república que nos é dado viver.
Houve aspectos positivos? É claro que houve, os quais devem ser lembrados com respeito por todos os que procuraram levá-los à prática na construção do nosso País, na aurora do século XX. Mas também não podemos enterrar a nossa História, sob pena de passarmos, aos nossos jovens,  uma mensagem falsa da mudança de regime.

Fernando Martins

3 comentários:

  1. Amigo Fernando:
    Às vezes vale a pena dar-te um "toque"...
    Já agora mais uma achega, que talvez a desconheças. Era tantos os ataques à Igreja e seus membros,que alguns para não serem incomodados, implantavam nos seus telhados, bustos com o símbolo da república. Já reparaste em dois desses bustos que estão no telhado da casa que foi do nosso Prof. Ribau? (Manuel Joaquim Ribau). Foram lá postos com esse fim.Compo sabes, para ser padre só lhe faltavam as "Ordens de missa". Daí a perseguição de que começou a ser alvo.Colocados os bustos, não voltou a ser incomodado...
    Esta história foi-me contada pelo próprio, uma tarde em que foi à nossa casa buscar um bocado de "bôla" de que gostava muito. E adivinhava sempre quando a minha mãe cozia... A bôla quente era melhor, dizia ele. Messe dia estava bem disposto, e eu que andava com ela ferrada, fiz-lhe a
    pergunta sobre os bustos.
    E a resposta aí está...
    Ângelo Ribau

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  2. É verdade, só conhecendo o passado podemos arquitectar o futuro.

    Cumprimentos

    João Marçal

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  3. Sabia disso, meu caro. E várias vezes olhei para aquelas estatuetas no cume do telhado! Havemos de falar dessa história, para a fixar por escrito...
    O livro "Proscritos" li-o em casa dos teus pais. Penso que era dos teus tios, Diamantino e Josué. Certo?

    Um abraço para ti e para o Marçal!

    FM

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