O não-referendo em Ano da República
1. Lá mais para meados deste ano, como que em preparação próxima para a comemoração do centenário da República, certamente que se vai dos vários modos, ouvir muito falar de «ética republicana». Este um refrão que foi crescendo e que poderá simbolizar o que de melhor pode, ainda assim, atingir o modelo político vigente. Pelos percursos da história das ideias e da ciência política poderíamos retratar tanto o desenvolvimento das éticas nestes terrenos como, no caso da absoluta isenção, os “enganos” matreiros das próprias repúblicas. Tem-se falado de que este ano pode ser uma oportunidade de esclarecimento cívico, de aprofundamento da consciência política colectiva, da necessária revisão isenta daquilo que é a história que nos precede para que os dias de amanhã consigam sempre mais e melhor…
2. Absolutizar qualquer sistema político poderá ser bem perigoso, o século XX regista essas memórias. Compreender os caminhos andados leva-nos a aceitar que a república e a democracia são o meio possível para a finalidade da sã convivência humana, esta sim a meta a atingir. Como dizia o livre padre António Vieira, quando vezes o «torcer das leis», o manusear em interesse próprio e sectário, o manobrar com outras finalidades que não a verdade clara e o bem comum, atrapalham e enganam aquilo que é a própria ética proclamada. A democracia do “só quando dá jeito” atraiçoa a autenticidade da expressão do pensar comunitário e afasta as gentes da essencial ligação aos que lideram o barco comum. Denuncia-se que é preocupante a indiferença política, mas fecham-se portas de debate aberto e promotor de consciências cívicas mais (re)conhecedoras.
3. A primeira medida política do actual executivo e a primeira medida que abriu o ano do centenário da república não auguram nada de bom. Mesmo sem falar no conteúdo (republicano) de uma “igualdade” não reflectida, para tudo e para nada, a verdade é que a apressada fuga ao referendo espelha bem o que se quer ou não se quer fazer da ética republicana e da própria democracia. Vale a pena pensar…?
Alexandre Cruz