sábado, 19 de dezembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 162

BACALHAU EM DATAS - 52




O FIM DA PESCA À LINHA

Caríssimo/a:

1974 - «Nos primeiros dias de Maio de 1974, tem lugar em Lisboa a última bênção dos navios e tripulações da frota bacalhoeira. Já se deu a revolução de Abril, a Organização Corporativa das Pescas começava a ser desmantelada, a explosão social chegava aos portos bacalhoeiros e a bordo dos próprios navios. A “bênção” de 1974 mantinha intactos os elementos cénicos e a evocação épica da “grande pesca”, mas estava longe da espectacularidade de outros tempos. Ao largo de Belém perfilavam-se uns poucos de navios embandeirados, pronos a largar para a Terra Nova. Cenário tão desolador e de tão nítido contraste com tempos idos que o “Jornal do Pescador” se coibiu de publicar as habituais fotografias. Nas palavras do bispo que presidiu à cerimónia, D. Maurílio Gouveia, o mundo marítimo passava naquele momento por profundas transformações que pareciam abalar as suas estruturas.» [Oc45, 91]

«Em 1974, o Gil Eanes amarrou ao cais em Lisboa. Depois de outra tentativa na área comercial foi definitivamente desactivado, aguardando a sua demolição. Foi salvo deste triste epílogo por uma comissão, os “Amigos de Gil Eanes”...» (v.1955) [HDGTM, 43]


«Nos anos 50, enquanto a frota portuguesa ainda se encontrava em crescimento em termos de capacidade, a produtividade por navio descia, por escassez efectiva de bacalhau, a valores bastante baixos. O sistema português atingiu rapidamente o colapso, como seria de esperar considerando a sua precária estrutura. Quando o regime caiu em Abril de 1974, o que restava da frota bacalhoeira “de navios de pesca à linha” não tardou a desaparecer. Registaram-se nesta época profundas mudanças na política de pescas do estado português – e também alterações nos regimes de soberania dos espaços marítimos, com a implementação do conceito de mar territorial. A definição do limite de 200 milhas como Zona Económica Exclusiva de cada país, determinou o fim do acesso aos melhores pesqueiros de bacalhau, uma vez que os bancos da Terra Nova e Groenlândia deixaram de ser do domínio público. A arte da pesca do bacalhau à linha, com veleiros carregados de dóris e de pescadores, entrou em irreversível processo de extinção. No entanto, a memória desta gesta continua viva, através da presença entre nós de um protagonista essencial desta história: o CREOULA, um dos últimos lugres bacalhoeiros do mundo.»[C. 13]

... « [A] queda do Estado Novo coincidia com o fim da pesca à linha com dóris, arte que a frota portuguesa foi a última a abandonar entre as grandes potências mediterrânicas da pesca do bacalhau. O sinal mais tangível do crepúsculo de um tipo de pesca que o Estado Novo teimara em manter por razões de ordem económica e social – no limite por critérios políticos – é o do número de “navios de linha” que vão aos bancos da Terra Nova na campanha de 1974.Da mítica “White Fleet”sobravam três navios com motor, todos eles de casco de madeira: o ILHAVENSE, o SÃO JORGE e o NOVOS MARES. Os dois primeiros naufragaram, ambos por incêndio a bordo: o ILHAVENSE em plena faina nos traiçoeiros “Virgin Rocks” dos baixios da Terra Nova e o SÃO JORGE quando regressava de St. John's a mando da recém-criada Secretaria de Estado das Pescas que considerara esgotadas as possibilidades de ceder às reivindicações salariais da tripulação do navio. Das três embarcações apenas regressou o NOVOS MARES com os porões praticamente vazios, a tripulação em greve e o costado coberto de inscrições onde se liam vivas à liberdade e às Forças Armadas. Além dos pescadores e tripulantes em greve, o NOVOS MARES trazia a bordo alguns homens que salvara do SÃO JORGE. Quando o navio chegou ao cais da Gafanha da Nazaré, junto a Aveiro, foi esperado com a emoção de sempre, mas decerto com ansiedade redobrada. Ansiosas as mulheres temiam pela vida dos seus homens e pela certeza dos salários, há meses ouviam notícias de naufrágios, de tumultos e insubordinações a bordo, da Revolução que chegara ao mar.» [Oc45,90]


«Quando o regime soçobrou em Abril de 1974, o que restava da frota bacalhoeira de “navios de linha” não tardou a desaparecer.» [Oc45, 91]

«A eminência de tragédia humana nos dois “navios de linha” que se afundaram sem que todavia houvesse vítimas, a greve a bordo do Novos Mares e a greve das tripulações de mais nove arrastões da frota bacalhoeira, incluindo alguns navios de rede de emalhar, exprimem uma espécie de epitáfio da “Campanha do bacalhau” a que não faltam elementos típicos de uma história trágico-marítima.» [Oc45, 92]

Manuel

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