1. Decorria o início do século XVI e a sociedade europeia vivia sobressaltos de nunca vista desumanidade. A exploração escrava de outros povos descobertos, o egoísmo da riqueza e as cruéis guerras religiosas no coração da Europa registaram nos anais da história das piores páginas de sempre. Neste duro ambiente, alguns grandes autores procuraram interpretar o seu tempo propondo caminhos a seguir de forma humana e digna. Algumas dessas grandes personalidades inscreveram-se no chamado pensamento da renascença, o qual proporcionou uma recriação actualizada das ideias e artes clássicas. Se o problema da sociedade da época era humano, estes autores apostaram na resolução da “questão antropológica” (ou seja, do repensar o agir humano).
2. Erasmo de Roterdão (1466-1536), essencial personalidade da renascença, escreve no ano de 1509 e publica em 1511, o famoso ensaio O Elogio da Loucura. Trata-se de uma obra, segundo especialistas, das mais influentes da civilização ocidental, sendo um dos catalisadores da designada Reforma Protestante. O Elogio da Loucura, em que a loucura é comparada a uma deusa, espelha os cenários de uma época controversa, através da sátira, do sombrio, da prática supersticiosa, da corrupção, da indignidade, do crime horrendo, num cortejo de miserabilidade sem limites. Tratava-se, fundamentalmente, do elogio de acontecimentos, posturas e coisas sem qualquer valor. Uma contradição, espelho de total vazio.
3. A que propósito vem esta temática? Há semanas quando dos rasgados elogios do presidente do Irão ao presidente da Venezuela, e deste ao presidente do Irão, lembrámo-nos do povo desses países e da estranha razão para tanto “elogio”. Decorria, então, a visita com “glamour” do presidente iraniano pela América latina, na procura jubilosa de angariar parceiros para a sua causa… Diz-se que a “questão antropológica” (sobre quem é o ser humano?) está na ordem do dia… Não há razões para tanto elogio, porquanto o estado do povo é que deve falar pelo líder…!
Alexandre Cruz