JESUS EM TRIBUNAL
Pilatos recebe Jesus em sua casa – a residência do procurador do Imperador de Roma. Recebe-o porque a autoridade judaica lho entrega para ser julgado e condenado à morte. Sem demoras, inicia um diálogo a sós com ele, diálogo directo, claro e decisivo.
Jesus adopta uma postura digna e serena, centrando “o fio da conversa” na pessoa de Pilatos que, rapidamente, passa de juiz a arguido num vaivém contínuo: da sala à varanda, da consulta à multidão à escuta da mulher, da certeza à pergunta, da dureza da lei à busca da verdade. Este vaivém constitui um espelho transparente da atitude interior de quantos sentem o contraste das razões da consciência com a onda avassaladora das opiniões gritadas na praça pública.
Jesus aproveita a pergunta de Pilatos sobre a verdade para centrar o diálogo na missão que tem vindo a realizar e da qual estava a ser acusado. “Vim para ser testemunha da Verdade”. E qual é o seu testemunho?
Jesus testemunha pelo estilo de vida e jeito de agir que dispor de qualquer forma de poder é cultivar atitudes de serviço humilde e generoso; que toda a pessoa vale mais que as riquezas do templo e a sacralidade do sábado; que o bem de todos é fruto do contributo de cada um; que Deus e o homem estão unidos por laços originais de vida e não são concorrentes ou rivais, mas amigos leais envolvidos na mesma causa: o bem-estar integral da humanidade; que a salvação definitiva está no amor feito serviço.
A verdade é Jesus que, hoje, se espelha nas atitudes humanas e nos critérios de valor que constituem a marca da vida dos seus discípulos e a qualidade da sua acção social. Verdade que tem a ver com a justiça, a solidariedade fraterna, o bem comum, os direitos humanos, a ética da responsabilidade na política e na economia. A verdade de Jesus mostra que ser humano é aceitar-se na sua inteireza, apreciar a sua dignidade pessoal e de relacionamento, assumir o casamento entre homem e mulher, defender a vida e, em caso de conflito de valores, preferir os que menos têm, podem e sabem.
Jesus continua em tribunal. A par de tantas injustiças e acusações falsas, há sinais evidentes desta verdade no mundo de hoje: os incansáveis defensores dos direitos humanos universais; os voluntários de todas as causas nobres; os que sabem acolher e acompanhar quem está em necessidade; os que fazem da sua vida uma doação permanente para desvendar a presença de Deus nos caminhos da humanidade, realizando serviços que a Igreja lhes confia.
Georgino Rocha