A FIGUEIRA DOS REBENTOS NOVOS
As árvores acompanham o ritmo do tempo e dão sinais que manifestam o presente e anunciam o futuro. Constituem observatórios do que está a ocorrer ou se avizinha. Conservam as marcas do passado como registo de uma história que se faz vida, ora hibernada, ora pujante de energia. São portadoras de uma seiva que desvenda horizontes profundos e amplos, evocadores de forças que ultrapassam o ser humano e o lançam na busca do Infinito.
Assim acontece com a figueira dos rebentos novos. É uma árvore muito apreciada pelos judeus, juntamente com a oliveira e a videira. Jesus recorre a ela para dar alguns elementos sobre a mudança de estação, o final dos tempos, o fim da história, o futuro definitivo de tudo quanto existe, especialmente da humanidade.
“Aprendei a parábola da figueira” – diz aos discípulos amedrontados com o que estavam a ouvir em linguagem alternativa própria de iniciados. E continua: “Quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo”.
Estes sinais são acessíveis a qualquer observador experiente. O futuro está contido germinalmente no presente, sendo necessário descobrir e potenciar a sua energia. De contrário, as linguagens da natureza, onde se espelha as de Deus, passam despercebidas ou são desvirtuadas. E a mensagem portadora de boas notícias para cada geração surge incompreensível e desumana. Provoca medo, rejeição e indiferença.
A parábola mostra a figueira a querer deixar o Inverno da letargia, do adormecimento das energias, das rotinas de manutenção, do conservadorismo estéril, da imagem despida e sem atracção, da aparente morte portadora de vida. Constitui um reflexo significativo de tantas situações da sociedade: no tempo de Jesus e no nosso, também.
O Inverno, como fonte de riqueza e estação de serviço à vida, está encoberto por densas nuvens de desatenção e banalidade. E a sua função de laboratório de energias germinais passa despercebida e sem qualquer utilidade.
A exortação-convite de Jesus aponta noutra direcção: a da primavera da vida. Olhai os sinais novos, vede os rebentos a surgir, observais as folhas a despontar, a seiva pujante a “chorar”. Dai conta que um mundo novo está em gestação, que tantas sementes de vida estão a germinar. Cultivai uma visão positiva e optimista da realidade que vos envolve. Apreciai os valores emergentes e dai as mãos aos que, sem descanso, lutam por uma sociedade justa, solidária e equitativa.
O “choro” da figueira é sinal do contraste que em si está a ser operado: a vida nova precisa de espaço para brotar e se expandir, mas depara-se com limitações impostas pela situação do tronco e dos ramos. As medidas “cirúrgicas”, como podas e arranque dos “ladrões”, surgem como garantias de vitalidade fecunda e da nova estação que se avizinha. Este “choro” é mais de ganhos que de perdas, de transformação que de destruição, de vida que de morte. Será um eco prolongado do “choro” das mamãs na hora do parto. A alegria do bebé nascido e a esperança de uma vida feliz compensam abundantemente o sofrimento daquela fase de transição.
Georgino Rocha