Diálogo de Harry Rosenthal
1. A inevitabilidade de se ter que se dialogar – quase que num à força político! – acaba por reduzir o diálogo a uma mera formalidade esvaziada de si mesmo. Cada um é como é, e não é a conjuntura numérica de actos eleitorais que altera a profundidade das atitudes humanas fundamentais. Talvez este usar as palavras mediante o jeito que elas dão às circunstâncias seja um reflexo do próprio enfraquecimento das lideranças. Esta lei que institucionaliza o vender gato por lebre chamando palavras afáveis em determinados momentos de aproximação estratégica sempre dá que pensar… Quando se viveu pouco o diálogo no passado recente (em que se podia tê-lo feito em liberdade) e agora se insiste em dialogar à força, é opção discursiva que não augura nada de novo, antes confirma o tempo precedente.
2. Um dos grandes filósofos do diálogo, Martin Buber (1878-1965) deve estar assustado! Compreenderá o esvaziar das palavras mas não o apagão da “ideia” da intersubjectividade dialogal. Buber, judeu de origem austríaca, filósofo, escritor e pedagogo de educação poliglota, via a experiência humana como a realização continua do diálogo. Viver é relacionar-se, diria Buber. E a verdade é que em momentos fundamentais da humanidade o “diálogo” foi estando como princípio fundante de novos caminhos que se procuram desenvolver. Viver o diálogo como e no “princípio” e não no fim, como se fosse um último recurso de sobrevivência, talvez seja esta uma recomendação bem-vinda, saudável e auspiciosa na procura de um envolvimento sempre mais abrangente. Até porque o isolacionismo, no “dia seguinte” faz morrer o seu próprio autor.
3. Não se duvide que diante de um mundo em profunda convulsão transformadora a atitude de diálogo só poderá ser crescente. Ela marca a diferença entre o apostar no futuro ou o fechamento do passado. O diálogo autêntico não reside em apagar-se a si mesmo ou às suas ideias, mas em partilhá-las na boa liberdade que edifique e (re)une…